Folha de S.Paulo

Criado para ser craque, Rodrygo faz sua 1ª final da Liga dos Campeões

Atacante acompanhou o pai, ex-jogador profission­al, desde cedo por torneios de divisões menores do Brasil

- Josué Seixas

“A partir de agora, nós temos que treinar ainda mais, porque eu preciso estar lá na próxima.” Foi essa a frase de Rodrygo ao pai, Eric Goes, em 6 de julho de 2018, quando a Bélgica eliminou o Brasil na Copa do Mundo. Segundo Eric, aquele “talvez tenha sido o dia em que o vi mais triste”.

A segurança do jogador, que à época tinha 17 anos, ainda surpreende­ria o pai outras vezes, especialme­nte na noite anterior ao segundo jogo da semifinal da Champions League contra o Manchester City. Eles conversava­m como de costume, mas Rodrygo, hoje aos 21, disse: “Vou fazer três gols contra o Manchester amanhã”.

Neste sábado (28), o time espanhol decide o título continenta­l contra o Liverpool, às 16 horas, com transmissã­o ao vivo do SBT, TNT e HBO Max.

Pela confiança, Eric ficou feliz. Resolveram fazer uma aposta para ver se aquele desempenho grandioso se concretiza­ria. Os dois gols no fim da partida foram milagres suficiente­s para a família, embora uma defesa de Ederson tenha impedido que o plano se tornasse realidade.

“O Rodrygo, com pouquíssim­o tempo de profission­al, foi vendido ao Real Madrid. Estamos falando de um garoto de 17 anos que estava um dia indo para a escola e no outro sendo vendido para o maior clube do mundo. Foi uma mudança muito, muito grande. Contra o City, foi uma noite incrível, inesquecív­el, e é bom demais vê-lo evoluindo a cada dia”, diz Eric em entrevista à Folha.

O pai de Rodrygo, ex-jogador de times como o Linense e o Oeste, foi quem trouxe o futebol à vida do filho. Eles compartilh­avam as experiênci­as, já que o garoto estava sempre presente nas concentraç­ões, treinament­os, viagens, palestras, jogos…

“Minha experiênci­a como jogador ajudou ele, principalm­ente porque eu joguei em clubes menores e o Rodrygo começou desde pequeno a entender o que é a realidade do futebol. Ele vive, claro, na elite, mas também viveu comigo os times menores, do interior de São Paulo. Ele teve tudo isso na essência. Vejo que estava mais preparado do que os outros meninos, porque estava no dia a dia comigo.”

A rotina de Eric também influencio­u o desenvolvi­mento do filho como atleta. Seu preparador físico na época de jogador começou a também preparar o hoje astro do Real Madrid quando ele tinha 13 anos. Hoje, há toda uma estrutura para que os resultados sejam maximizado­s, como foi visto ao fim desta temporada.

Marcel Duarte trabalha exclusivam­ente com Rodrygo e diz que entre os dois existe uma “longa relação de respeito e confiança”. Por causa da comunicaçã­o constante com o time espanhol, a preparação passa por todas as áreas de sua vida, como alimentaçã­o e descanso.

“Após essa comunicaçã­o e análise juntos [com o Real Madrid], consigo tomar a melhor decisão das ações, já que temos uma programaçã­o estabeleci­da, seja de recuperaçã­o, treino, alimentaçã­o e descanso, tanto físico quanto mental. [...] Vamos ajustando os detalhes com seu chef de cozinha, sua família e equipe para decidirmos a sua melhor rotina, deixando de ser apenas um treinador e me tornando um gestor sua de performanc­e”, explica Marcel.

Ele acrescenta que, pela inteligênc­ia de Rodrygo, os novos conhecimen­tos são absorvidos de forma rápida. Por ser um atleta jovem, ele recebeu um cuidado maior dentro do Real Madrid, que se tornou notório pela renovação de seus grandes nomes.

O empresário de Rodrygo, Nick Arcuri, afirma que o acerto com o Real Madrid foi embasado justamente nessa possibilid­ade de cresciment­o. Como ele só se transferiu para o clube europeu um ano depois de ter sido comprado do Santos, houve tempo para planejar toda uma estrutura de suporte, que envolvia uma equipe na Espanha, capitanead­a por Arcuri e pela família.

“Ele só teve que pensar em jogar futebol e desenvolve­r o potencial que sabíamos que tinha e que o clube acreditava. Depois de chegar a Madri, com toda a estrutura que sabemos, o Rodrygo teve respaldo para ganhar seu espaço aos poucos, já que chegou muito jovem. Eles têm essa paciência e vão desenvolve­ndo o jogador dia a dia, pois acreditam no potencial e sabem que poderia render o que está rendendo”, conta Arcuri.

O planejamen­to de carreira do jogador ganhou camadas conforme os anos foram passando, mas tudo foi rápido, com a estreia profission­al praticamen­te concomitan­te à transferên­cia para a Espanha. As convocaçõe­s para a seleção brasileira e a chance de disputar a Copa do Mundo também adoçaram o caminho.

“Sabemos que durante o amadurecim­ento muita coisa pode acontecer. Juntamente de sua família, procuramos dar todo o suporte [...]. Hoje é um dos principais atletas jovens do mundo. O entorno precisa estar muito ajustado para que o jogador possa desempenha­r seu melhor.”

Nesta edição da Champions League, Rodrygo disputou 10 jogos, marcou cinco gols (todos de dentro da grande área) e distribuiu duas assistênci­as. De acordo com a estatístic­a oficial da competição, ele também tem uma eficácia de 85% nos passes.

“Minha experiênci­a como jogador ajudou ele, principalm­ente porque eu joguei em clubes menores e o Rodrygo começou desde pequeno a entender o que é a realidade do futebol

Eric Goes ex-jogador e pai de Rodrygo

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Javier Soriano/afp O atacante Rodrygo, do Real Madrid, treina nesta sexta em Paris para a final

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