Folha de S.Paulo

Revolução animal de George Orwell ganha versões para crianças

Escritores e estudiosos explicam por que o autor de ‘1984’ e ‘A Revolução dos Bichos’ é importante até hoje

- TODO MUNDO LÊ JUNTO Marcella Franco TODO MUNDO LÊ JUNTO Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáve­is e educadores com a criança

Era uma vez uma fazenda onde os animais eram maltratado­s pelo dono do lugar. Além de trabalhar muito, eles também ganhavam menos comida do que precisavam. Um dia, esses animais tomaram uma decisão: chega! Era hora de, unidos, expulsar dali os humanos e viver um novo tipo de sociedade, mais feliz e equilibrad­a.

Essa história está registrada em um livro famoso chamado “A Revolução dos Bichos” (às vezes também nomeado como “Fazenda dos Animais”), do britânico George Orwell. Ele foi publicado a primeira vez em 1945, quando o mundo vivia o fim da Segunda Guerra Mundial e talvez os seus avós estivessem para nascer.

É um livro que foi escrito para leitores mais velhos —o que nunca impediu ninguém de ler quando tivesse vontade, é importante que se diga.

Mas, agora que a obra de Orwell entrou em domínio público (que é quando o que alguém escreveu pode ser usado por todo mundo, sem restrições), algumas editoras escolheram lançar versões para crianças e adolescent­es.

É o caso da Editora do Brasil, que tem duas versões de “A Revolução dos Bichos”, incluindo uma em quadrinhos, e da Oficina Raquel, que lançou edição com adaptação de Henrique Rodrigues e ilustraçõe­s de Adriana Cataldo.

“Ele é importante até hoje porque criou universos ficcionais, ou seja, universos de mentira, que influencia­ram o universo de verdade”, acredita o escritor e humorista Gregório Duvivier, um grande fã de George Orwell.

“A gente usa expressões que ele criou, como por exemplo o ‘Big Brother’, que ele inventou no seu livro ‘1984’, e também a palavra ‘orwelliana’, sobre algo que parece que saiu de um livro dele”, completa Greg, que escreveu o prefácio da edição do livro “1984” para a editora Antofágica.

Greg diz que uma das coisas de que mais gosta em Orwell é que ele é direto no que escreve. “Ele não floreia demais. E a história está sempre andando para frente. E ele também é muito pouco maniqueíst­a, não tem o bem e o mal puramente. Os heróis são um pouco frágeis, e a gente se identifica.”

A mestre e doutora em literatura Debora Tavares, especialis­ta em Orwell, leu “A Revolução dos Bichos” aos 12 anos. “Eu gostei muito porque os animais do livro se comportam que nem pessoas: eles têm defeitos, qualidades, são complexos”, lembra.

“Parece que, na história, a gente consegue ver alguns comportame­ntos da vida real, como quando uma figura que toma o poder começa a ficar muito egoísta.”

Lillo Parra, que, com a ilustrador­a Chairim adaptou a história para HQ na Editora do Brasil, também leu o livro aos 12 anos e... detestou!

“Eu era um jovem idealista que acreditava num mundo sem injustiças, mais ou menos como os animais do livro. Ler sobre como um mundo perfeito pode ser destruído pela ânsia de poder foi chocante. A verdade é que eu não entendi a mensagem na época”, diz.

Ele conta que agora adora a história. “Hoje entendo que o mundo não se divide em mocinhos e bandidos. A história mostra os perigos de um governo autoritári­o, de como a população pode ser iludida por discursos tendencios­os a ponto de não perceber que está sendo manipulada. Mesmo tantas décadas depois, a mensagem continua surpreende­ntemente atual.”

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Fotos Divulgação Ilustração de Chairim para a versão HQ da Editora do Brasil, escrita por Lillo Parra

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