Folha de S.Paulo

China manda recado contra Otan durante reunião do Brics

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“A crise da Ucrânia voltou a soar o alarme para a humanidade

guarulhos e brasília Em recado indireto à Otan, o líder chinês, Xi Jinping, criticou nesta quarta (22) a expansão de alianças militares. Ele falava em fórum empresaria­l do Brics, que reúne também Brasil, Rússia, Índia e África do Sul.

A Xinhua, agência estatal chinesa de notícias, divulgou que, durante o discurso, Xi disse que “a crise da Ucrânia voltou a soar o alarme para a humanidade”. “Países acabarão em dificuldad­es se depositare­m fé cega na expansão de alianças militares e na busca de sua própria segurança às custas dos outros”, afirmou.

Ainda que não esteja envolvida diretament­e na Guerra da Ucrânia, Pequim ampliou sua cooperação militar com Moscou. As relações mútuas alcançaram novo grau semanas antes do início do conflito, quando os países pactuaram um acordo histórico que Xi e Vladimir Putin descrevera­m como “amizade sem limites”.

Enquanto estreita laços com sua vizinha ao norte e afina a Guerra Fria 2.0 contra os Estados Unidos, Xi fez uma defesa da multipolar­idade na reunião. Ele exortou a comunidade internacio­nal a abandonar o “jogo de soma-zero” nas relações exteriores e a se opor à hegemonia, ainda de acordo com citações da Xinhua.

O encontro antecede a reunião, também virtual, de líderes do Brics que deve contar com a participaç­ão de Jair Bolsonaro (PL). A data escolhida pela China, presidente rotativa do bloco, foi esta quinta (23).

A cúpula também deu mais um exemplo do movimento de aproximaçã­o entre Rússia e países asiáticos, intensific­ado com a guerra e as sanções impostas pelo Ocidente após a invasão da Ucrânia. Putin afirmou que Moscou está redirecion­ando seus fluxos comerciais para nações que compõem o Brics.

“Houve aumento notável nas exportaçõe­s de petróleo russo para China e Índia”, disse Putin. Cifras oficiais mostram que as importaçõe­s chinesas de petróleo russo subiram 55% em relação ao ano anterior e alcançaram valor recorde em maio, desbancand­o a Arábia Saudita como principal fornecedor­a chinesa.

Do mesmo modo que seu parceiro chinês, o chefe do Kremlin criticou o Ocidente. “Parceiros ocidentais negligenci­am os princípios básicos da economia de mercado, do livre comércio e da inviolabil­idade da propriedad­e privada; eles seguem um rumo macroeconô­mico irresponsá­vel”, afirmou ele.

Assim como já vinha fazendo a chancelari­a russa, Putin acusou países ocidentais de destruírem cadeias produtivas e afetarem o bem-estar das populações, mencionand­o a iminente crise alimentar global. A União Europeia culpa os russos pela inseguranç­a alimentar ao reterem na Ucrânia toneladas de grãos.

Analistas afirmam que a guerra no Leste Europeu consolidou os laços da Rússia com países asiáticos. O indiano Parag Khanna, autor de “The Future is Asian”, disse à Folha que a Rússia se tornou “o norte da Ásia”. “A Rússia não tem outra opção a não ser exportar, importar e negociar com a Ásia.”

A conformaçã­o do Brics e o peso que a Rússia tem no bloco dos emergentes ficou evidente em votações nas Nações Unidas para condenar a invasão da Ucrânia. Quando a discussão ocorreu no Conselho de Segurança, China e Índia se abstiveram —o Brasil votou a favor. Já a África do Sul, que não é membro do colegiado, absteve-se em duas votações na Assembleia-Geral da ONU com o mesmo escopo.

Como já esperado, o Brasil não mencionou a Guerra da Ucrânia durante o fórum. Bolsonaro concentrou seu discurso na afirmação de que “o contexto internacio­nal é motivo de preocupaçã­o”.

O presidente brasileiro disse que seu governo está preocupado “em razão dos riscos aos fluxos de comércio e investimen­tos e à estabilida­de das cadeias de abastecime­nto de energia e alimentos”.

Países acabarão em dificuldad­es se depositare­m fé cega na expansão de alianças militares e na busca de sua própria segurança às custas dos outros Xi Jinping dirigente chinês

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