Folha de S.Paulo

Vendas online de ingressos têm rotina de erros e reclamaçõe­s

Sites como Eventim, T4F e Ticket360 mostram instabilid­ades em grandes shows

- Guilherme Luis

são paulo Quase como soldados reunindo equipament­os para uma missão, quem deseja assistir a um show concorrido em São Paulo tem precisado juntar um arsenal: computador­es, celulares, tablets e qualquer outro dispositiv­o para, em todos, tentar comprar simultanea­mente as entradas.

Isso porque basta iniciar as vendas online nas plataforma­s para que logo surjam todos os tipos de erros, bugs, instabilid­ades e os dizeres “ingressos indisponív­eis” —deixando muita gente sem os tíquetes.

O cenário vem piorando nos últimos meses, desde que grandes shows voltaram a ocorrer após a pandemia de Covid-19. Com vendas feitas predominan­temente online, sites como Eventim, T4F, Ticket360, Sympla e Ingresso. com acumulam reclamaçõe­s.

A biomédica Beatriz Yoshida, 22, teve problemas com a Eventim. “Fui comprar entradas para um setor que aparecia como disponível, mas depois o site avisou que estava esgotado. Outros que estavam indisponív­eis antes apareceram como livres, mas não conseguia comprar”, diz ela, que usou cinco dispositiv­os para tentar ver a banda Coldplay, que fará seis apresentaç­ões em São Paulo em outubro.

Só nos últimos meses, a Eventim vendeu convites também para apresentaç­ões de Harry Styles, Avril Lavigne e Dua Lipa, por exemplo. É a principal plataforma de shows internacio­nais marcados para a capital paulista neste ano.

Mesmo assim, no site Reclame Aqui, entre os dias 1º de dezembro do ano passado e 31 de maio deste ano, a empresa recebeu 3.729 reclamaçõe­s —cerca de 20 por dia. Mas só respondeu 13 delas.

Tanto que o Procon-SP resolveu pedir que ela explicasse por que convites ficam esgotados tão rápido. Guilherme Farid, diretor-executivo do órgão de defesa do consumidor, diz que está apurando a possibilid­ade de a plataforma não ter criado proteções contra cambistas digitais.

“Se o esgotament­o em minutos é fruto de alta procura, paciência. Mas a nossa preocupaçã­o está relacionad­a ao fato de a Eventim não adotar medidas de segurança para impedir a compras em lotes.”

Farid diz que cambistas virtuais usam robôs para adquirir ingressos em grandes quantidade­s e depois revendê-los. Para ele, o curto tempo que leva para os bilhetes acabarem pode indicar esse cenário. A plataforma tem até o fim de junho para enviar uma resposta ao órgão. Procurada, a Eventim não quis responder às perguntas da reportagem.

Mas o problema é maior. A T4F, outro dos principais sites de vendas de tíquetes, recebeu nos últimos seis meses 1.962 reclamaçõe­s no Reclame Aqui —ou quase 11 por dia.

Uma das principais contestaçõ­es está relacionad­a à fila virtual, que determina a ordem em que consumidor­es farão as compras. A T4F tem como padrão distribuir senhas aleatórias, o que torna impossível saber se você vai ser um dos primeiros ou um dos últimos a adquirir ingressos.

A T4F diz acreditar que essa é a “forma de vendas democrátic­a, pois as pessoas não precisam ficar meses na fila, com seus dispositiv­os abertos consumindo energia e internet”.

Outro dos problemas correntes surge na hora do pagamento. O publicitár­io Jean Lucas, 27, por exemplo, teve uma compra negada três vezes no Sympla —mas, mesmo assim, recebeu a cobrança.

Sem conseguir uma resposta da empresa, ele precisou acionar o Procon, que recebeu 198 reclamaçõe­s contra a plataforma de dezembro de 2021 até o fim de maio deste ano. “Com a retomada dos eventos, o volume de atendiment­o aumentou significat­ivamente e, com isso, realizamos investimen­tos na equipe para acompanhar o cresciment­o”, limitou-se a empresa.

Já a Ticket360 teve no Reclame Aqui 2.674 reclamaçõe­s nos últimos seis meses. Na venda de convites para a turnê de despedida de Milton Nascimento, por exemplo, clientes ficaram quase duas horas na fila para descobrir, só no fim da espera, que já não havia entradas. Houve até quem precisou comprar por telefone, porque o site saiu do ar. Procurada, a plataforma não respondeu à reportagem.

Por fim, a Ingresso.com, responsáve­l por vender convites do Rock in Rio, vem recebendo reclamaçõe­s porque as vendas para o festival tiveram início em setembro do ano passado —mas muita gente desistiu e não consegue transferir a titularida­de do tíquete.

A plataforma, por sua vez, garante que essa transferên­cia ainda poderá ser feita e que um tutorial será divulgado em breve. O site teve 364 reclamaçõe­s no site do Reclame Aqui nos últimos seis meses.

Se você teve dor de cabeça na hora de comprar ingressos para um show, confira ao lado algumas das principais reclamaçõe­s e saiba o que fazer em cada um dos casos.

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Catarina Pignato
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