Vendas online de ingressos têm rotina de erros e reclamações
Sites como Eventim, T4F e Ticket360 mostram instabilidades em grandes shows
são paulo Quase como soldados reunindo equipamentos para uma missão, quem deseja assistir a um show concorrido em São Paulo tem precisado juntar um arsenal: computadores, celulares, tablets e qualquer outro dispositivo para, em todos, tentar comprar simultaneamente as entradas.
Isso porque basta iniciar as vendas online nas plataformas para que logo surjam todos os tipos de erros, bugs, instabilidades e os dizeres “ingressos indisponíveis” —deixando muita gente sem os tíquetes.
O cenário vem piorando nos últimos meses, desde que grandes shows voltaram a ocorrer após a pandemia de Covid-19. Com vendas feitas predominantemente online, sites como Eventim, T4F, Ticket360, Sympla e Ingresso. com acumulam reclamações.
A biomédica Beatriz Yoshida, 22, teve problemas com a Eventim. “Fui comprar entradas para um setor que aparecia como disponível, mas depois o site avisou que estava esgotado. Outros que estavam indisponíveis antes apareceram como livres, mas não conseguia comprar”, diz ela, que usou cinco dispositivos para tentar ver a banda Coldplay, que fará seis apresentações em São Paulo em outubro.
Só nos últimos meses, a Eventim vendeu convites também para apresentações de Harry Styles, Avril Lavigne e Dua Lipa, por exemplo. É a principal plataforma de shows internacionais marcados para a capital paulista neste ano.
Mesmo assim, no site Reclame Aqui, entre os dias 1º de dezembro do ano passado e 31 de maio deste ano, a empresa recebeu 3.729 reclamações —cerca de 20 por dia. Mas só respondeu 13 delas.
Tanto que o Procon-SP resolveu pedir que ela explicasse por que convites ficam esgotados tão rápido. Guilherme Farid, diretor-executivo do órgão de defesa do consumidor, diz que está apurando a possibilidade de a plataforma não ter criado proteções contra cambistas digitais.
“Se o esgotamento em minutos é fruto de alta procura, paciência. Mas a nossa preocupação está relacionada ao fato de a Eventim não adotar medidas de segurança para impedir a compras em lotes.”
Farid diz que cambistas virtuais usam robôs para adquirir ingressos em grandes quantidades e depois revendê-los. Para ele, o curto tempo que leva para os bilhetes acabarem pode indicar esse cenário. A plataforma tem até o fim de junho para enviar uma resposta ao órgão. Procurada, a Eventim não quis responder às perguntas da reportagem.
Mas o problema é maior. A T4F, outro dos principais sites de vendas de tíquetes, recebeu nos últimos seis meses 1.962 reclamações no Reclame Aqui —ou quase 11 por dia.
Uma das principais contestações está relacionada à fila virtual, que determina a ordem em que consumidores farão as compras. A T4F tem como padrão distribuir senhas aleatórias, o que torna impossível saber se você vai ser um dos primeiros ou um dos últimos a adquirir ingressos.
A T4F diz acreditar que essa é a “forma de vendas democrática, pois as pessoas não precisam ficar meses na fila, com seus dispositivos abertos consumindo energia e internet”.
Outro dos problemas correntes surge na hora do pagamento. O publicitário Jean Lucas, 27, por exemplo, teve uma compra negada três vezes no Sympla —mas, mesmo assim, recebeu a cobrança.
Sem conseguir uma resposta da empresa, ele precisou acionar o Procon, que recebeu 198 reclamações contra a plataforma de dezembro de 2021 até o fim de maio deste ano. “Com a retomada dos eventos, o volume de atendimento aumentou significativamente e, com isso, realizamos investimentos na equipe para acompanhar o crescimento”, limitou-se a empresa.
Já a Ticket360 teve no Reclame Aqui 2.674 reclamações nos últimos seis meses. Na venda de convites para a turnê de despedida de Milton Nascimento, por exemplo, clientes ficaram quase duas horas na fila para descobrir, só no fim da espera, que já não havia entradas. Houve até quem precisou comprar por telefone, porque o site saiu do ar. Procurada, a plataforma não respondeu à reportagem.
Por fim, a Ingresso.com, responsável por vender convites do Rock in Rio, vem recebendo reclamações porque as vendas para o festival tiveram início em setembro do ano passado —mas muita gente desistiu e não consegue transferir a titularidade do tíquete.
A plataforma, por sua vez, garante que essa transferência ainda poderá ser feita e que um tutorial será divulgado em breve. O site teve 364 reclamações no site do Reclame Aqui nos últimos seis meses.
Se você teve dor de cabeça na hora de comprar ingressos para um show, confira ao lado algumas das principais reclamações e saiba o que fazer em cada um dos casos.