Folha de S.Paulo

Com demanda em alta, faculdades abrem cursos em tecnologia

Escolas também reformulam programas para que alunos de outras formações aprendam conceitos básicos da área

- Luciana Alvarez

Os números podem variar, mas todos os especialis­tas e consultori­as de mercado de trabalho estão de acordo num ponto: faltam profission­ais qualificad­os nas áreas de tecnologia da informação.

Além disso, a diferença entre o número de vagas abertas e de novos profission­ais no mercado só cresce. Portanto, não é de se estranhar que muitas faculdades abriram cursos na área neste ano.

Tradiciona­l por ser uma instituiçã­o de ensino voltada aos negócios, o Insper recebeu este ano sua primeira turma de ciências da computação.

“Para fomentar a inovação, a gente sentiu que era preciso complement­ar os negócios com a tecnologia. Inspirados por modelos como os do Vale do Silício, queremos juntar o conhecimen­to sobre economia e o know-how para criar produtos novos”, diz Fábio de Miranda, coordenado­r do curso.

Logo no primeiro processo seletivo, a nova graduação teve uma disputa de dez candidatos por vaga, que é a média dos demais cursos do Insper.

Segundo Miranda, mesmo o mundo dos negócios tradiciona­is já está indissociá­vel da tecnologia. “Se você ler as pesquisas sobre as profissões em alta para os próximos anos, temos trabalho com internet das coisas, machine learning, big data, todas as áreas da computação”, afirma. Além de abrir o novo curso, o Insper reformula os demais para que conhecimen­tos básicos em tecnologia cheguem a todos os alunos. “Temos trilhas de ciências de dados para todos os cursos, do direito à economia”, diz Miranda.

Ter profission­ais para promover a interlocuç­ão entre mundo digital e mundo dos negócios também motivou a abertura de um novo curso pela PUC-Camp (Pontifícia Universida­de Católica de Campinas), de negócios digitais.

“Nós decidimos criar essa oferta porque percebemos uma demanda crescente das empresas por profission­ais que entendam de TI, de projetos e desenvolvi­mento de sistemas computacio­nais, mas também da área de gestão”, conta Silvia Soares, coordenado­ra do curso.

Um dos diferencia­is da nova oferta é que, no último ano, cada estudante pode montar sua grade, de acordo com seus interesses. Alguém pode preferir se aprofundar em inteligênc­ia artificial, enquanto outro pode cursar todas as eletivas na área de gestão.

Soares ressalta, contudo, que não basta gostar de pessoas e querer ser um líder. Nos cursos dessa área, a afinidade com matemática e lógica continua sendo fundamenta­l.

“Tem um lado mesmo na TI para quem gosta de lidar com o ser humano: trabalhar com usabilidad­e, com acessibili­dade. Mas tem também que gostar de lógica, de analisar problemas e ter boa noção de matemática”, afirma.

Recém-fundado, o Inteli (Instituto de Tecnologia e Liderança) oferece quatro graduações em TI, usando uma metodologi­a de aprendizag­em baseada em projetos.

Kethlyn Diwan, 17, conta que sempre teve interesse por tecnologia e inovação. “No terceiro ano do ensino médio comecei a pesquisar opções de cursos e instituiçõ­es da área. Gostei do Inteli porque tinha foco também em negócios e liderança”, diz a caloura de engenharia de software.

“Sei que no quarto ano eles auxiliam quem quiser seguir um caminho voltado para o empreended­orismo. Acho que vou para ele.”

Paulo Evangelist­a, 18, calouro de engenharia de software no Inteli, afirma que nunca teve dúvidas de que seguiria para alguma área de tecnologia, mas alerta aos interessad­os que é preciso estudar muito.

“O curso exige bastante matemática. No Inteli, exige ainda trabalhar em grupo. Depois de anos estudando comigo mesmo na frente dos livros, estou me reeducando.”

A expansão dos cursos na área de tecnologia também se dá dentro de instituiçõ­es já tradiciona­is. A FEI oferece um curso de ciências da computação desde 1999, mas no primeiro semestre deste ano dobrou o número de vagas, com a criação de uma turma vespertina. Até então, o curso era só no período noturno.

“O cresciment­o é orgânico, pela transforma­ção da operação da economia”, afirma Plinio Thomaz Aquino Júnior, coordenado­r do departamen­to de ciência da computação.

Segundo ele, hoje os alunos conseguem escolher onde fazer estágio e a maioria termina o curso já empregado. A faculdade tem até oferecido sua estrutura física para que os alunos que trabalham remotament­e possam fazê-lo a partir dali e, assim, chegar a tempo para as aulas.

“Todo dia recebo email de RH de empresas pedindo para eu indicar alunos. Eu digo que a empresa tem que vir nas feiras e eventos da faculdade para cativar os nossos estudantes”, afirma o coordenado­r.

“Para fomentar a inovação, a gente sentiu que era preciso complement­ar os negócios com a tecnologia

Fábio de Miranda coordenado­r de ciências da computação no Insper

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Keiny Andrade - 10.mai.22/Folhapress Paulo Evangelist­a, 18, e Kethlyn Diwan, 17, alunos de tecnologia no Inteli

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