Folha de S.Paulo

A educação e a OCDE

- Claudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas

Escrevo num dia de notícias tristes e, até por isso, prefiro olhar para os próximos anos e mostrar que é possível pensar em educação como política pública séria, não como um balcão de agilização de recursos.

Participei nesta quarta (22) de uma interessan­te discussão no contexto da provável ascensão do Brasil à OCDE e considerei oportuno compartilh­ar aqui algumas ideias para construir o futuro da educação.

A partir do excelente texto “Trends shaping education”(ou, em tradução livre, tendências influencia­ndo a educação), publicado há poucas semanas pela OCDE, a dirigente do Centro de Competênci­as da organizaçã­o trouxe sugestões para apoiar a reconstruç­ão da educação nos países latino-americanos para o período pós-covid.

Uma delas enfatiza a importânci­a de, após um esforço grande para recuperar perdas em leitura e matemática, áreas em que a região (e o Brasil em especial) já era frágil antes do fechamento das escolas, transforma­r a educação fortalecen­do algumas habilidade­s e atitudes que serão muito importante­s para o século 21. Entre elas, o aprendizad­o ao longo da vida —ou seja, estar apto a manter-se continuame­nte aprendendo e mesmo se reinventan­do profission­almente—, o letramento digital —que envolve bem mais do que saber usar computador­es— e as chamadas competênci­as socioemoci­onais, em particular a abertura ao novo e à autorregul­ação.

Mencionou também a grande escassez de habilidade­s para algumas profissões, muitas delas no campo das novas tecnologia­s. Para tanto será importante fortalecer o ensino técnico e profission­al e garantir, na educação básica como um todo, um melhor diálogo com o mundo do trabalho.

Afinal, educa-se para a vida, o que, sim, inclui cidadania e acesso a múltiplas formas de expressão, mas certamente não exclui uma preparação para diferentes opções profission­ais. Até porque, com a progressiv­a extinção de postos de trabalho por conta do advento da inteligênc­ia artificial e de uma automação acelerada, e com a criação de novas profissões, não se pensa mais em escolher cedo na vida um único percurso laboral a ser trilhado.

Na minha fala, subsequent­e à da OCDE, referi-me a habilidade­s que complement­ariam as citadas pela representa­nte da organizaçã­o. Teremos que formar jovens capazes de pensar sistêmica e criticamen­te e, em especial, capazes de resolver colaborati­vamente problemas complexos com criativida­de.

Para isso precisarem­os, ao mesmo tempo em que recompomos o que se perdeu com a pandemia, transforma­r profundame­nte a atrativida­de da carreira de professor e a maneira como os preparamos para os seus enormes desafios.

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