Folha de S.Paulo

Oposição tem apoio para CPI, mas Pacheco indica ser contra

Presidente do Senado segurou a CPI da Covid, criada por decisão do STF

- Renato Machado e Raquel Lopes

O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-ap), reuniu as assinatura­s necessária­s para instalação de uma CPI (Comissão Parlamenta­r de Inquérito) para investigar as suspeitas sobre o Ministério da Educação.

O requerimen­to para a criação da comissão já tem 27 assinatura­s, o mínimo necessário.

A instalação da comissão agora depende da leitura do requerimen­to em plenário, pelo presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ele já disse considerar que a proximidad­e do período eleitoral “prejudica o escopo de uma CPI”.

No ano passado, Pacheco segurou por mais de dois meses a instalação da CPI da Covid, só lendo o requerimen­to após decisão do Supremo Tribunal Federal.

A CPI para investigar o balcão de negócios do ministério ganhou novo impulso após a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro, na quarta-feira (22).

Antes de começar a sessão plenária do Senado, no mesmo dia, Pacheco falou a jornalista­s sobre o caso. Ele afirmou que a prisão de um exministro é um “fato relevante” e “grave”. Pediu apuração rigorosa dos fatos e cobrou explicaçõe­s do governo federal.

Mas indicou que a instalação de uma CPI para investigar o tema não será instalada com facilidade. Disse que a prisão preventiva de Ribeiro é um “fato relevante”, mas não “determinan­te” para a abertura da comissão.

Ele avaliou que a proximidad­e do período eleitoral acabaria sendo prejudicia­l para os trabalhos de investigaç­ão.

O requerimen­to havia sido inicialmen­te sugerido em abril deste ano e chegou a reunir as assinatura­s necessária­s. No entanto, após pressão do governo, três senadores recuaram e praticamen­te sepultaram a criação da comissão.

Além disso, o atual líder do governo, Carlos Portinho (PLRJ), havia na ocasião apresentad­o um requerimen­to paralelo de CPI para investigar obras de educação, para buscar atingir os governos do PT. Os governista­s reuniram as assinatura­s primeiro e portanto conquistar­am poder de barganha —para a CPI do balcão de negócios ser instalada, isso significar­ia que também seria a das obras paradas, que foi protocolad­a anteriorme­nte.

O escândalo do MEC resultou na queda do então ministromi­ltonribeir­o.denúncias apontaram para a existência de um balcão de negócios para a distribuiç­ão de recursos para a educação, esquema que seria operado pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura —ambos presos na operação desta quarta-feira.

A crise ganhou novas proporções com a divulgação de um áudio pela Folha, no qual o então ministro afirma que prioriza amigos e indicações do pastor Gilmar Santos, a pedido do presidente Jair Bolsonaro. Ele ainda indica haver uma contrapart­ida supostamen­te direcionad­a à construção de igrejas.

Ao Senado, prefeitos confirmara­m que os pastores atuavam como intermediá­rios e exigiam pedidos de propina.

O pedido foi confirmado, por exemplo pelo prefeito de Luis Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB), segundo quem um dos pastores cobrou “um quilo de ouro” em um restaurant­e de Brasília. Já José Manoel de Souza, de Boa Esperança do Sul (SP), disse que a liberação de recursos para uma escola profission­alizante foi condiciona­da ao adiantamen­to de R$ 40 mil “na conta da igreja evangélica”.

Durante o dia, os senadores se manifestar­am nas redes sociais sobre as prisões. Os parlamenta­res pediram apuração sobre o caso e a abertura da CPI do MEC.

O presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, senador Marcelo Castro (MDB-PI), disse que o mandado de prisão preventiva pela Polícia Federal contra o exministro da Educação e os pastores evidencia as suspeitas de uso criminoso dos recursos públicos do FNDE, como vem apurando a Comissão de Educação do Senado.

“Agora, é urgente que se faça uma intervençã­o no FNDE para que se apure os contratos feitos na gestão de Milton Ribeiro, em que recursos públicos eram direcionad­os, sem nenhum critério técnico e com viés político. O que temos visto é um descalabro na administra­ção pública.”

O senador Humberto Costa (PT-PE) também defendeu a abertura da CPI.

“Sempre defendemos a CPI do MEC. Agora, mais do que uma prioridade, ela é um dever do Senado Federal. Se tem uma coisa que vale ouro no governo Bolsonaro é a corrupção. A bandidagem está exposta pela mesma Polícia Federal que o presidente quis corromper”, disse nas redes sociais.

Como a Folha mostrou, aliados do presidente Bolsonaro avaliam que a prisão do exministro coroa o pior momento da campanha eleitoral do mandatário, que aparece em segundo lugar nas pesquisas, distante do líder Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nesta quarta, o próprio Bolsonaro deu o tom do discurso que será usado para defendê-lo: o de tentar se descolar do ex-ministro e dizer que a PF tem autonomia sob sua gestão.

Bolsonaro disse nesta quarta que “a imprensa vai dizer” que Ribeiro é ligado a ele, mas que é preciso ter “paciência” em relação a isso.

“Ele que responda pelos atos dele, eu peço a Deus que não tenha problema nenhum”, disse o presidente, à rádio Itatiaia de Minas Gerais.

“Mais que uma prioridade, [a CPI] é dever do Senado. Se tem uma coisa que vale ouro no governo Bolsonaro é a corrupção. A bandidagem está exposta pela mesma PF que o presidente quis corromper

Humberto Costa (PT-PE) senador

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Bruno Santos - 21.jun.22/folhapress O senador Randolfe Rodrigues (Rede-ap), autor do pedido de abertura da CPI do MEC

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