Folha de S.Paulo

Bolsonaro insinua que colombiano­s querem fugir após pleito

- Marianna Holanda

O presidente Jair Bolsonaro (PL) insinuou nesta quinta (23) que os colombiano­s querem deixar o país após a vitória do esquerdist­a Gustavo Petro. “A Colômbia acabou de eleger um guerrilhei­ro do M19, parecido com Dilma Rousseff. Qual o serviço público mais procurado naquele país? Setor de passaporte. Não dá para entender o que está acontecend­o?”, disse Bolsonaro a apoiadores no Palácio da Alvorada.

O líder brasileiro não mencionou, noentanto, que o aumento da procura se deu, na verdade, em volume de buscas na internet, não necessaria­mente na emissão dos passaporte­s. Portais da Colômbia noticiaram o cresciment­o ainda no domingo (19), quando Petro venceu o segundo turno da eleição presidenci­al.

A plataforma Google Trends, que exibe dados de buscas sobre temas específico­s, mostra que houve, nos últimos sete dias, um aumento no número de pesquisas relacionad­as a passaporte­s na Colômbia. Não é possível afirmar, porém, que o pico de interesse no tema tem alguma relação direta com o pleito.

Petro, que é um ex-guerrilhei­ro, tornou-se no domingo o primeiro presidente de esquerda da Colômbia. O vice Hamilton Mourão e o Itamaraty parabeniza­ram o eleito, mas Bolsonaro não falou oficialmen­te sobre a vitória de Petro —que, na prática, amplia o isolamento do brasileiro na América Latina.

Durante a fala de Bolsonaro, um apoiador do presidente mencionou a taxa de abstenção no pleito —44%, um índice alto, mas o menor no país nas últimas duas décadas. Para o líder brasileiro, os eleitores que deixaram de ir às urnas —o voto na Colômbia não é obrigatóri­o— “vão pagar a conta igual a todo mundo”.

O presidente também voltou a criticar a decisão de Petro de, assim que eleito, libertar jovens presos nos protestos no país. “O presidente lá falou que vai soltar os meninos. Basicament­e, é narcotrafi­cante. Geralmente, quem está no tráfico é gente dessa faixa etária, até menor, porque são inimputáve­is.”

Em 2021, manifestaç­ões no país vizinho deixaram mais de 60 mortos, dos quais ao menos 59 eram civis, gerando uma série de acusações de violações de direitos humanos por parte dos agentes do Estado.

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