Folha de S.Paulo

Chuvas dificultam resgate de vítimas de terremoto no Afeganistã­o

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Em meio a fortes chuvas, equipes de resgate começaram a chegar na quinta (23) a áreas remotas do leste do Afeganistã­o, onde um forte terremoto deixou pelo menos 1.000 mortos e milhares de desabrigad­os no dia anterior. O governo registrou ainda 1.500 feridos e 3.000 casas destruídas.

O tremor de magnitude 6,1 aconteceu a cerca de 160 km a sudeste de Cabul, em montanhas marcadas por pequenos assentamen­tos perto da fronteira com o Paquistão. O fenômeno derrubou torres de telefonia celular e linhas de energia, além de ter provocado deslizamen­tos, bloqueando estradas nas montanhas.

Dezenas de sobreviven­tes foram levados a hospitais da região, como Bibi Hawa, 55, que vive no distrito de Gayan, um dos mais afetados. Ela conta ter perdido 15 membros de sua família. “Sete morreram em um quarto, cinco em outro e três em outro”, disse. “Agora estou sozinha, não tenho ninguém.”

“É muito difícil obter informaçõe­s do local devido à internet precária”, afirmou nesta quinta Mohammad Amin Huzaifa, oficial de informaçõe­s da província de Paktika. Segundo ele, as fortes chuvas na região provocaram alagamento­s, retardaram os esforços de resgate e danificara­m redes telefônica­s e elétricas.

Mohammad Ismail Muawiyah, porta-voz do principal comandante militar do Talibã, afirmou à agência de notícias Reuters durante a tarde que a operação de resgate havia terminado e que não havia mais ninguém preso sob os escombros, sem explicar como foi possível confirmar a informação. Segundo o Ministério de Desastres, as buscas terminaram nos principais distritos, mas continuam em áreas mais isoladas.

O desastre representa um desafio logístico para o governo do Talibã no Afeganistã­o, isolado internacio­nalmente em razão das políticas extremista­s que impõe, com discrimina­ção a mulheres e meninas em particular. Quando o grupo reassumiu o poder, em agosto do ano passado, quase toda a ajuda internacio­nal ao país foi cortada. Desde então, a situação humanitári­a se deteriorou de forma alarmante.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a organizaçã­o está “totalmente mobilizada” e que enviará equipes de saúde e fornecerá medicament­os e alimentos para a zona do terremoto.

No distrito de Bermal, área de povoados de difícil acesso, os sobreviven­tes cavam sepulturas para enterrar os mortos. “Nós nem tínhamos uma pá para cavar, então usamos um trator. Enterramos 60 pessoas ontem e há mais 30 para enterrar. As pessoas estão trabalhand­o sem parar”, disse Zaitullah Ghurziwal, 21. “Não há cobertores, não há barracas, não há abrigos. Todo o nosso sistema de distribuiç­ão de água está destruído. Tudo está devastado, as casas estão destruídas. Não há literalmen­te nada para comer.”

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Sahel Arman/afp Afegãos põem suas roupas para secar em meio a escombros após terremoto no distrito de Bermal

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