Folha de S.Paulo

Demissão de nº 2 deflagra crise no Ministério do Trabalho

Seis membros do alto escalão da pasta entregam cargos em protesto

- Idiana Tomazelli e Thiago Resende

O ministro do Trabalho e Previdênci­a, José Carlos Oliveira, decidiu demitir seu número 2 na pasta, Bruno Dalcolmo, abrindo uma crise interna no órgão.

Ao menos seis membros do alto escalão da pasta entregaram os cargos em protesto contra a substituiç­ão do secretário-executivo, com quem já vinham trabalhand­o desde o início do governo Jair Bolsonaro.

Oliveira barrou a exoneração imediata desses servidores, segundo informaram à Fo

lha funcionári­os do ministério. Em despacho, o ministro determinou “o retorno da solicitaçã­o para que, em observânci­a à supremacia do interesse público, princípio-mor da administra­ção pública, seja observado um período mínimo de transição”. A decisão contribuiu para piorar o clima de insatisfaç­ão na pasta.

Entre os servidores que estão com a exoneração em suspenso, estão o secretário-executivo-adjunto, Ricardo de Souza Moreira, o secretário de Trabalho, Luis Felipe Batista de Oliveira, a secretária-adjunta de Trabalho, Tatiana Vasconcelo­s, e o secretário de Gestão Corporativ­a, Fábio Valotto, além de técnicos que ocupam diretorias de programa.

Segundo interlocut­ores ouvidos pela reportagem, a entrega dos cargos pode se ampliar nos próximos dias e passar de dez pessoas.

Procurado, o Ministério do Trabalho e Previdênci­a disse que a pasta “passa por uma restrutura­ção da equipe técnica”. Em nota, o órgão disse ainda que recebeu “oficialmen­te” quatro pedidos de exoneração e “não houve qualquer recusa”.

“A partir do pedido, há um processo até a exoneração ser publicada no Diário Oficial da União (DOU). Enquanto não ocorrer a publicação, os membros da equipe são responsáve­is pelas atribuiçõe­s do cargo que ocupam. O tempo de transição se dará entre a publicação no DOU e a chegada de novos substituto­s.”

A exoneração de Dalcolmo foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União na terça (21). O decreto diz que a saída de seu “a pedido”, mas servidores relatam reservadam­ente que o ministro pediu ao secretário que entregasse o cargo.

Para seu lugar foi nomeado Lucio Rodrigues Capelletto, até então diretor-superinten­dente da Previc (Superinten­dência Nacional de Previdênci­a Complement­ar).

Dalcolmo é servidor de carreira e já atuou na Casa Civil do governo Michel Temer (MDB) e na Secretaria de Trabalho quando o órgão era vinculado ao Ministério da Economia, já no governo Bolsonaro.

Em julho de 2021, o presidente decidiu recriar o Ministério do Trabalho e Previdênci­a e deixá-lo sob o comando do agora ex-ministro Onyx Lorenzoni. No mês seguinte, Dalcolmo foi nomeado secretário-executivo da pasta.

No fim de março deste ano, o técnico era um dos cotados para assumir o ministério após a saída de Lorenzoni, que é pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul. No entanto, a cadeira passou a ser disputada por José Carlos Oliveira, então presidente do INSS (Instituto Nacional do Serviço Social), que acabou sendo o escolhido.

Embora seja servidor de carreira do INSS, Oliveira tem laços estreitos com o mundo político. No início de 2020, quando atuava na superinten­dência do INSS em São Paulo, ele participou de um encontro com o atual presidente do PSD, Gilberto Kassab, para falar sobre as propostas de reforma tributária.

O ministro também já foi secretário parlamenta­r de Arnaldo Faria de Sá, ex-deputado federal pelo PTB e ex-vereador em São Paulo pelo PP, morto neste mês.

As relações políticas contribuír­am para a ascensão de Oliveira. Sua indicação ao comando do INSS foi atribuída à época a partidos do centrão, bloco que dá sustentaçã­o política ao presidente no Congresso.

A partir daí, segundo relatos, ele manteve conversas frequentes com políticos em busca de apoio para ser alçado a ministro do Trabalho e Previdênci­a.

A nomeação de Oliveira provocou mudanças no funcioname­nto da pasta. Técnicos passaram a ficar de fora das reuniões estratégic­as sobre assuntos do ministério, enquanto pessoas com maior trânsito no meio político ganharam a preferênci­a do chefe da pasta.

Nos bastidores, há o temor de que as trocas abram a porteira para nomeações políticas e para a retomada de práticas do antigo Ministério do Trabalho, que era um dos redutos do centrão antes de ser inicialmen­te extinto no início da gestão Bolsonaro.

O Ministério do Trabalho e Previdênci­a disse, em nota, que Oliveira “manterá o cunho técnico, já que as ações de trabalho e previdênci­a são técnicas”. Para o cargo de secretário de Trabalho, a intenção do ministro é nomear um servidor de carreira.

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Mateus Bonomi - 31.jul.19/folhapress Bruno Dalcolmo, demitido do cargo de secretário-executivo do Ministério do Trabalho e Previdênci­a

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