Folha de S.Paulo

Startups passam por ressaca com onda de demissões

Retração nos investimen­tos após liquidez da pandemia barateia empresas e cria pressão por lucro

- Daniela Arcanjo

Nos últimos dois anos, enquanto o comércio parava e as Bolsas derretiam, startups quebraram recordes de investimen­to. Mas dados de aportes de 2022 mostram que a conta da pandemia pode ter finalmente chegado ao setor.

Até maio, investidor­es direcionar­am US$ 2,6 bilhões para startups, ante US$ 3,2 bilhões no mesmo período de 2021. Já o valor médio dos investimen­tos subiu de US$ 9,2 milhões para US$ 12,5 milhões, o que mostra uma concentraç­ão.

Ao todo, no ano passado, foram US$ 9,4 bilhões injetados na inovação brasileira, quase 2,6 vezes o que foi captado pelas empresas do segmento em 2020 —US$ 3,5 bilhões, o que já havia sido um recorde.

O ciclo mais recente de queda dos investimen­tos ajustou valores de mercado das startups, antes inflados pelos aportes, e causou cortes em massa.

Em abril, Quintoanda­r, Loft e Facily demitiram mais de 400 funcionári­os em uma semana, história que se repete em outras empresas do setor. Na terça-feira (21), 340 pessoas foram avisadas de desligamen­to no Ebanx, corte que representa 20% dos mais de 1.700 funcionári­os no Brasil.

O entusiasmo com startups nos últimos dois anos é explicado pela política monetária de quase todos os bancos centrais no mundo, que viram as atividades paralisare­m na pandemia. A medida padrão foi diminuir as taxas de juros para incentivar a injeção de capital na economia.

Além disso, a digitaliza­ção forçada da população, que se bancarizou, impulsiono­u de aulas a distância a compras pela internet —segmentos de atuação de muitas startups.

Agora, os dois fatores mudaram. A volta das atividades presenciai­s joga dúvidas sobre o desempenho futuro das empresas de tecnologia. Não se sabe se hábitos online, como o ecommerce, serão mantidos.

Já os juros vêm sendo ajustados na tentativa de frear a inflação global, que não dá sinais de trégua. Taxas altas tornam mais rentáveis aplicações menos arriscadas que startups —empresas em fase de cresciment­o acelerado que, em muitos casos, queimam caixa para crescer e superar as concorrent­es.

O resultado é escassez de dinheiro para aportes, pressão dos investidor­es por lucro e, por outro lado, oportunida­des de negócio para companhias que querem adquirir startups por preços mais baixos.

“Antes, era cresciment­o a qualquer custo. Hoje, o investidor quer startups que deem resultado”, diz Roberto Pina, presidente-executivo do fundo de investimen­tos Sevensete. “O momento é de reduzir os riscos e o tamanho do cheque.”

Grandes companhias que querem incorporar inovações de startups serão beneficiad­as pelo ajuste dos valores.

As startups do guarda-chuva da Sevensete estão recebendo mais propostas de compra. Se nos últimos anos 90% das propostas eram de fundos, hoje mais da metade das tentativas de negócio vem de grandes empresas.

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