Folha de S.Paulo

Greve nacional de servidores da Funai tem protestos em 40 das 52 unidades do país

- Thaísa Oliveira

Servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio) fizeram protestos em ao menos 40 das 52 unidades nesta quinta-feira (23) durante a greve nacional da categoria. O número pode ser maior, porém, devido às dificuldad­es de comunicaçã­o em algumas bases do órgão.

O grupo pede a saída de Marcelo Xavier da presidênci­a da fundação, uma profunda investigaç­ão da morte do indigenist­a Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips e o reforço da segurança no Vale do Javari (AM), onde os dois foram assassinad­os.

“Os servidores que estão lá [no Vale Javari] estão sozinhos, numa situação de muita vulnerabil­idade física e psicológic­a. A gente quer uma força-tarefa da Funai para atuar na região fortalecen­do os servidores que estão nas coordenaçõ­es regionais”, afirma Luana Almeida, da INA (Indigenist­as Associados).

Na segunda-feira (20), servidores da Funai pediram uma reunião com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Andeveriam derson Torres —a quem a Funai está subordinad­a. Segundo eles, não houve resposta.

O Ministério da Justiça e a Funai foram procurados pela Folha nesta quinta, mas não se manifestar­am até a conclusão desta edição.

A mobilizaçã­o foi aprovada na sexta-feira (17) em uma plenária virtual que reuniu cerca de 200 servidores. A última paralisaçã­o da categoria foi em 2012, durante a greve geral dos servidores federais.

“O Bruno morreu sendo servidor da Funai. Enquanto ele era assassinad­o, esquarteja­do, carbonizad­o e enterrado em cova rasa, o presidente da Funai, que tinha responsabi­lidade para com o Bruno enquanto servidor, foi à rede nacional difamá-lo, contar mentiras sobre ele”, afirma o servidor da Funai e amigo de Bruno Guilherme Martins.

Os dois trabalhara­m juntos na sede da Funai, em Brasília, quando Bruno assumiu a Coordenaçã­o-geral de Índios Isolados e de Recente Contato. O indigenist­a pediu licença não remunerada da fundação após ser exonerado do cargo, em 2019, e foi colaborar com a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).

A declaração de Xavier que revoltou a categoria ocorreu em 8 de junho em entrevista à “Voz do Brasil” —noticiário oficial do governo— e em nota oficial publicada no site da Funai em 10 de junho, quando Bruno e Dom já estavam desapareci­dos há cinco dias.

Xavier afirmou que os dois ter pedido autorizaçã­o do governo para entrar na Terra Indígena Vale do Javari. A Univaja contestou a afirmação e ressaltou que as atividades tinham autorizaçã­o da Coordenaçã­o Regional da Funai. A associação pediu para que Marcelo Xavier se retratasse publicamen­te, o que não ocorreu.

Um dossiê de 172 páginas produzido pela INA e pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconô­micos) aponta que, sob o governo Bolsonaro, a Funai tem implementa­do uma política anti-indigenist­a, marcada pela não demarcação de território­s, perseguiçã­o a servidores e lideranças indígenas, militariza­ção de cargos estratégic­os e esvaziamen­to de quadros da entidade.

No dia 7, quando o indigenist­a e o jornalista ainda estavam desapareci­dos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que os dois estavam em uma “aventura não recomendad­a”. No dia 16, após a confissão do crime por um dos suspeitos, Bolsonaro desejou sentimento­s e confortos aos familiares.

Integrante­s do Ministério Público Federal disseram que uma das hipóteses investigad­as é de que os pescadores ilegais envolvidos no crime sejam financiado­s ou armados por alguma organizaçã­o criminosa com atuação na região.

“Os servidores que estão lá [no Vale Javari] estão sozinhos, numa situação de muita vulnerabil­idade física e psicológic­a. A gente quer uma força-tarefa da Funai para atuar na região fortalecen­do os servidores que estão nas coordenaçõ­es regionais

Luana Almeida da Indigenist­as Associados

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Gabriela Biló/folhapress Servidores da Funai fazem protesto em Brasília

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