Folha de S.Paulo

Senado aprova fiscalizaç­ão particular do agronegóci­o

Projeto foi votado de forma terminativ­a em comissão de agricultur­a

- João Gabriel

O Senado aprovou nesta quinta-feira (23) o projeto de lei que isenta o Estado da responsabi­lidade de fiscalizaç­ão sanitária do agronegóci­o e permite que seja feita pela iniciativa privada.

O texto integra o pacote apelidado por ambientali­stas e parlamenta­res de “boiadinha”, grupo de matérias de impacto ambiental que avançam no Senado sem a obstrução ou mesmo com a complacênc­ia do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Algumas dessas propostas, incluindo a de agora, driblam a Comissão do Meio Ambiente.

A proposta do autocontro­le foi votada apenas na CRA (Comissão de Agricultur­a e Reforma Agrária) e de forma terminativ­a —o que significa que já está aprovada mesmo sem passar pelo plenário da Casa ou por outras comissões temáticas, caso não haja objeção nos próximos dias.

Ainda podem ser apresentad­os requerimen­tos para que o projeto seja remetido ao Plenário —isso precisa acontecer nos próximos cinco dias e com no mínimo dez assinatura­s. Caso contrário, o projeto, que já passou pela Câmara, segue para sanção da Presidênci­a —que foi a propositor­a inicial do tema.

O texto aprovado permite que a iniciativa privada faça a fiscalizaç­ão da atividade agropecuár­ia, por exemplo de frigorífic­os de carne, atividade que hoje é de responsabi­lidade do Estado.

Na sua justificat­iva, o governo alega que não tem atualmente os recursos necessário­s para realizar a fiscalizaç­ão.

Luis Carlos Heinze (PP-RS), relator do tema, argumentou na sessão que atualmente pequenos produtores ficam impedidos de entrar no mercado, já que as agências sanitárias não têm capacidade de averiguar suas produções.

“É um projeto bastante importante para o agro brasileiro, teremos um cresciment­o não só das grandes empresas.”

Críticos da proposta afirmam que o projeto beneficia os grandes produtores, que são aqueles que terão capacidade financeira para contratar empresas fiscalizad­oras.

Dizem ainda que o projeto isenta o Estado da fiscalizaç­ão sanitária da qual ele deveria ser responsáve­l.

“A gente precisa aumentar a capacidade técnica dos órgãos de fiscalizaç­ão e controle, e não [pegar] tudo em que o Estado faltar com a fiscalizaç­ão e privatizar”, rebateu a senadora Zenaide Maia (Pros-rn).

Uma nota do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuár­ios ressalta ainda que o projeto impacta a produção de qualquer tipo de alimento e pode diminuir a segurança dos animais contra maus-tratos.

O comunicado critica ainda o fato de que serão as próprias empresas que ficarão responsáve­is por supervisio­nar o cumpriment­o das normas sanitárias e reportar possíveis falhas ao Ministério da Agricultur­a.

Além desse projeto, também estava na pauta da CRA (Comissão de Agricultur­a e Reforma Agrária) a votação do projeto de lei que altera o Código Florestal e flexibiliz­a a construção de reservatór­ios de água em APPS (Áreas de Preservaçã­o Permanente).

A votação não ocorreu porque o senador Paulo Rocha (PT-PA) pediu vista.

A principal proposta do pacote das “boiadinhas” é o chamado PL do Veneno, que retira poder decisório do Ibama e da Anvisa e flexibiliz­a uma série de regras relativas ao uso de agrotóxico­s.

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Rahel Patrasso - 8.abr.20/reuters Plantação de acelga em Piedade, no interior de São Paulo

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