Folha de S.Paulo

Violência no Brasil

- Txai Suruí Coordenado­ra da Associação de Defesa Etnoambien­tal - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

A violência se escancara no Brasil, principalm­ente contra mulheres. O procurador Demétrius Oliveira de Macedo foi filmado espancando a procurador­a Gabriela Samadello Monteiro de Barros. Uma criança de 11 anos foi estuprada e teve seus direitos violados pela juíza Joana Ribeiro Zimmer.

Vivemos num sistema machista e capitalist­a, que justifica as agressões nas ações de suas vítimas e é mantido pela fala dos que estão no poder, seja no Judiciário, seja na Presidênci­a.

Jair Messias Bolsonaro tem um histórico de violência contra as mulheres. Vamos recordar alguns deles:

1998 – quando era deputado federal, agrediu Conceição Aparecida Aguiar, gerente da Planajur;

2011 – agrediu com palavras as mulheres negras quando, entrevista­do pela cantora Preta Gil sobre como seria sua reação se um dos filhos se envolvesse com uma mulher negra, respondeu. “Eu não vou discutir promiscuid­ade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavel­mente, é o seu”;

2014 – ataca a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), dizendo “ela não merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece”;

2020 – agride com palavras de duplo sentido a jornalista Patrícia Campos Mello, dizendo: “Ela [Patrícia] queria um furo. Ela queria dar um furo a qualquer preço contra mim”;

2021 – veta parte da lei que distribuir­ia absorvente­s gratuitame­nte para pessoas em vulnerabil­idade social (de olho nas eleições e vendo a repercussã­o dos seus atos, sanciona a lei em 2022);

Nas terras indígenas e no campo, sentimos o aumento da violência.

Indígenas uru-eu-wau-wau são ameaçados de morte. Eu, minha mãe, Neidinha Bandeira, e nossa família continuamo­s sob ameaças. Tememos o mesmo destino de Dom, Bruno e outros ativistas.

Lembremos das crianças e mulheres yanomamis que chocaram o mundo por serem estupradas e mortas por garimpeiro­s em troca de comida, sem que os órgãos de proteção tomem nenhuma atitude.

Enquanto isso, os garimpeiro­s permanecem dentro do território yanomami, destruindo a floresta, poluindo os rios e provavelme­nte estuprando, pois confiam na impunidade.

Onde estão os órgãos de proteção ambiental e de direitos humanos que não agem para exigir deste governo a imediata saída da terra indígena? Onde estamos nós que continuamo­s permitindo essas agressões? Por que não estamos revoltados? Por que continuamo­s tão conformado­s?

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