Folha de S.Paulo

Fugindo para Miami

- Alvaro Costa e Silva

A presença do país no mapa da fome nunca foi tão palpável. Basta pôr os pés na rua para ver como os mais vulnerávei­s —ou os miseráveis, para não usar o eufemismo— tentam se virar. É um quadro de horror e dor, que mostra o Brasil não só paralisado, mas andando para trás, com os indicadore­s econômicos e sociais regredindo no túnel do tempo.

A fila do Auxílio Brasil explodiu; quase 3 milhões de famílias aguardam o benefício. O governo é incapaz até no esforço para reeleger o presidente. Só tem uma única arma: a compra de votos. A bagunça é tão grande que, com apoio dos líderes do Congresso, Bolsonaro quer decretar estado de emergência para poder criar um repasse mensal de R$ 1.000 para 900 mil caminhonei­ros, além de elevar o Auxílio de R$ 400 para R$ 600.

Como se dizia na época do gabinete Rio Branco, haja dinheiro. Ou não haja, ficando tudo na promessa, e a confusão que aumente. Promover o caos para livrar a cara —a exemplo do que querem aprontar na Petrobras, ameaçando a empresa de perder R$ 30 bilhões com a instalação de uma CPI— é a ordem de cima. O país que quebre.

Não é apenas a incompetên­cia de Paulo Guedes. Ou a disfunção administra­tiva que atinge todos os ministério­s. Ao contrário da propaganda, há corrupção da grossa em Brasília. A operação mamata, contudo, deve permanecer em sigilo por cem anos. Daí a suspeita de mais uma interferên­cia nas investigaç­ões da Polícia Federal (que não está tão aparelhada como se pensava) e a pressa em tirar da carceragem o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que precisa ficar de boca fechada.

A cem dias das eleições, os bolsonaris­tas estão desesperad­os com a possibilid­ade de deixar o poder e responder na Justiça por seus crimes. A recente pesquisa Datafolha, mostrando a vitória do ex-presidente Lula no primeiro turno, fez soar o alerta. É hora de arrumar as malas do chefe e preparar a fuga para Miami.

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