Folha de S.Paulo

Kaká vê ‘problema nenhum’ em estrangeir­o na seleção

Para ex-jogador, fã de Ancelotti, nacionalid­ade não deve definir o técnico

- Luciano Trindade

A geração que está na casa dos 20 anos não viu o Brasil ser campeão mundial em 2002.

Kaká estava exatamente nessa faixa etária quando ajudou a seleção a conquistar o penta como caçula do elenco comandado por Luiz Felipe Scolari, na Coreia do Sul e no Japão.

Duas décadas depois daquele feito, penduradas as chuteiras em 2017, o ex-atleta se mantém ligado ao futebol. Hoje, gosta de se definir como um estudioso do esporte.

“Eu queria aprender outras áreas, como gestão, marketing e finanças. Então, passei a fazer vários cursos”, disse à Folha, em evento em São Paulo no qual se apresentou como embaixador da Rise Academy, um instituto de futebol para crianças de 5 a 13 anos.

Ao falar do projeto, o exmeia destacou que buscava algo para unir o esporte à formação de crianças. “Como pai, eu acredito que esse é o caminho para formarmos uma geração vencedora.”

Como jogador, ele já pensava assim. Dos técnicos com os quais trabalhou ao longo de sua carreira, gosta de destacar o período ao lado de Carlo Ancelotti, 63, atualmente à frente do Real Madrid.

O italiano foi seu primeiro treinador na Europa, em 2003, quando trocou o São Paulo pelo Milan. Sob a direção do italiano o brasileiro viveu o auge da carreira e foi eleito o melhor do mundo em 2007, além de ter colecionad­o títulos como o da Champions League e o do Mundial de Clubes.

Para o ex-atleta, o que separa Ancelotti dos demais técnicos é sua capacidade de gestão. “Ele é muito bom tecnicamen­te e taticament­e, mas o diferencia­l é a forma como ele lida com as pessoas”, afirma. “A maior dificuldad­e do futebol é fazer um elenco com 30 jogadores, com diferentes interesses, convergir para um interesse maior. E o Ancelotti sabe fazer isso.”

Kaká faz parte de uma extensa lista de jogadores lapidados nas mãos do italiano. Além dele, há vários brasileiro­s nesse grupo, incluindo nomes que estarão na próxima Copa, como o volante Casemiro e o atacante Vinicius Junior.

São pessoas que, para Kaká, terão uma preparação diferencia­da para o Mundial. “Eles poderão chegar à Copa muito mais confiantes. A gente já vê isso, mesmo com o Rodrygo, que vem entrando no time”, disse, citando outro brasileiro do Real Madrid.

Como alguém que construiu grande parte de sua carreira na Europa, onde atuou também pelo gigante de Madri, o ex-meia não hesita quando questionad­o se gostaria de ver um treinador estrangeir­o na seleção brasileira, como Ancelotti. “Não vejo problema nenhum em ter um estrangeir­o na seleção. O mais importante é o processo de escolha, que não seja pontual, mas, sim, um projeto de longo prazo, como foi com o Tite.”

Kaká também tem projetos de longo prazo. Depois de se formar em gestão esportiva na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e fazer o curso de técnicos de futebol da CBF (Confederaç­ão Braslieira de Futebol), em novembro ele terminará outro curso de gestão, desta vez certificad­o pela Uefa (União das Federações Europeias de Futebol).

Por enquanto, ele desconvers­a sobre onde pretende trabalhar daqui para a frente e diz estar “atento às oportunida­des que podem aparecer”.

Uma vaga que pode surgir no São Paulo, clube que o revelou. Com a saída do também ex-meia Alex do cargo de técnicodot­imesub-20,kakápoderá assumir o comando da base em quedeuseus­primeirosp­assos.

Até avançar nessa questão, ele quer passar os próximos dias comemorand­o o aniversári­o de 20 anos da conquista que lhe deu projeção internacio­nal. “Reviver esses momentos sempre é uma grande emoção. Foi algo único.”

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