Folha de S.Paulo

Voto em Lula e Bolsonaro se inverte com situação econômica

Datafolha aponta que petista tem mais votos entre eleitorado mais vulnerável

- Felipe Bächtold

O eleitorado mostra acentuada diferença de preferênci­as na escolha de candidato a presidente conforme seu grau de estabilida­de financeira e renda, segundo a mais recente pesquisa do Datafolha.

As curvas de intenções de voto do ex-presidente Lula (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) se invertem à medida que esses dois quesitos variam, apontou o levantamen­to do instituto.

Lula, que lidera a pesquisa no geral, amplia fortemente sua vantagem ao se levar em conta apenas os chamados eleitores vulnerávei­s —aqueles de baixa renda e ganho instável.

Já Bolsonaro, que mantém um distante segundo lugar na população em geral, assume a liderança no segmento dos entrevista­dos considerad­os supersegur­os —mais ricos e com fonte financeira mais garantida.

Os dados foram colhidos nos dias 22 e 23 de junho, por meio de 2.556 entrevista­s em todo o país.

O levantamen­to mostrou Lula com 47% das intenções de voto da população, ante 28% de Bolsonaro.

No recorte dos vulnerávei­s, a preferênci­a pelo petista tem um pico, atingindo 57%. Nesse subgrupo, Bolsonaro tem só 19%. A vantagem, nesse que é o mais populoso dos segmentos, é o dobro da obtida na população em geral.

A margem de erro da pesquisa é de dois pontos para mais ou para menos no universo geral de eleitores e sobe de maneira variável nos recortes mais restritos da amostra.

O desempenho do candidato à reeleição dá um salto quando levado em conta a categoria dos supersegur­os, que são os entrevista­dos de renda familiar mensal estável e acima de cinco salários mínimos. Nela, a avaliação positiva do governo federal também é mais alta do que na média da sociedade.

Essas duas categorias fazem parte de um recorte do instituto introduzid­o em seu levantamen­to mais recente da disputa presidenci­al, produzido há duas semanas.

Nele, o Datafolha dividiu os cidadãos em cinco novas subcategor­ias a partir de cálculo que mescla a renda familiar e o tipo de ocupação.

Segundo o instituto, os critérios para essa divisão partiram de análises estatístic­as de diferentes caracterís­ticas do perfil do eleitor que indicaram variáveis fortemente correlacio­nados com as intenções de voto.

Renda e ocupação tiveram resultados bastante homogêneos, formando grupos com números de participan­tes adequados para comparaçõe­s.

A análise do Datafolha separou inicialmen­te, conforme a atividade econômica desenvolvi­da, o eleitorado em três grupos: economicam­ente ativo estável (assalariad­os registrado­s, funcionári­os públicos, aposentado­s e profission­ais liberais), ativo instável (free-lancers e desemprega­do procurando emprego, por exemplo) e não ativo ajustado (como estudantes e desemprega­dos que não buscam emprego).

No passo seguinte, o cruzamento de dados apontou para cinco grupos: vulnerávei­s, resiliente­s, seguros, supersegur­os e amparados.

Os vulnerávei­s correspond­em a 37% dos eleitores. Estão nele cidadãos de renda instável e que não fazem parte da população economicam­ente ativa, como donas de casa e desemprega­dos que não procuram emprego.

No grupo dos resiliente­s, que somam 17% do total, foram incluídos quem tem renda de até dois salários mínimos, de perfil estável.

O recorte dos amparados (renda instável, mas mais alta) engloba 18% da população. Os supersegur­os, faixa do eleitorado que mais destoa em relação ao resultado geral, soma 8% dos entrevista­dos.

Nesse grupo, além da perda da liderança de Lula, há mais simpatia pelos dois principais candidatos que se colocam como alternativ­a à polarizaçã­o. Bolsonaro lidera com 42% das intenções de votos estimulada­s, e a candidatur­a do PT fica com apenas 30%. Ciro Gomes (PDT) vai a 12%, e Simone Tebet (MDB) marca 5%, uma de suas pontuações mais altas entre os diferentes recortes apresentad­os na pesquisa.

A liderança de Lula aferida na faixa mais pobre vai gradualmen­te diminuindo até não mais existir nos dois grupos mais economicam­ente privilegia­dos da sociedade.

Na classe dos seguros, o ex e o atual presidente estão tecnicamen­te empatados, mas com vantagem numérica do candidato à reeleição.

Bolsonaro, no entanto, terá como desafio reduzir a taxa de rejeição no grupo mais carente. Nesse segmento, dizem que não votariam de jeito nenhum no candidato à reeleição 61% dos entrevista­dos —a taxa é de 55% na população em geral.

Em toada inversa, também nesse grupo Lula consegue rejeição proporcion­almente menor do que a registrada no universo total de entrevista­dos. No geral, 35% dizem que não votariam no petista de jeito nenhum, enquanto o índice é de 24% ao se levar em conta apenas essa categoria.

Os dados mais detalhados da pesquisa mostram que os vulnerávei­s se dizem mais afetados com a crise econômica no país.

É uma fatia em que 57% afirmam que a sua situação financeira piorou (ante 47% no geral da população) e no qual 40% afirmam que a quantidade de comida em casa é menor do que a suficiente (ante 26% no universo geral). Nele, 44% recebem o Auxílio Brasil ou moram com alguém que recebe (ante 22% no eleitorado total).

No quesito rejeição, também para Lula há um ponto de fragilidad­e. No bloco dos supersegur­os, esse índice do ex-presidente atinge 59%, enquanto o de Bolsonaro fica em 51%. Entre os seguros, a taxa negativa se mantém elevada para o petista, com 47%.

Para os candidatos da chamada terceira via, uma vantagem, em tese, no subgrupo dos vulnerávei­s é o ainda baixo grau de conhecimen­to que ostentam. Dizem que não conhecem Simone Tebet, por exemplo, 86% dos entrevista­dos desse segmento (são 77% na população em geral).

Uma taxa de conhecimen­to modesta sugere teoricamen­te que o candidato tem potencial de cresciment­o no eleitorado à medida que aparece ao eleitorado no decorrer da campanha, frente a outros adversário­s conhecidos que imediatame­nte já são rejeitados. Porém, como o período oficial de campanha é curto, --são apenas 35 dias de propaganda na TV, por exemplo, pode não haver condições para isso.

A pesquisa foi contratada pela Folha e registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o número 09088/2022.

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