Folha de S.Paulo

França alega defesa da democracia ao justificar desistênci­a e apoio a Haddad

Ex-governador publicou vídeo nas redes sociais na tarde desta sexta (8) anunciando sua decisão

- Victoria Azevedo

O ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB) anunciou na tarde desta sexta (8) que não irá mais disputar o Governo de São Paulo nas eleições de outubro.

Em vídeo publicado nas redes sociais, França alegou a defesa da democracia ao justificar sua desistênci­a de concorrer ao Palácio dos Bandeirant­es e declarou apoio a Fernando Haddad (PT).

Apesar de não citar no vídeo, o ex-governador deverá concorrer ao Senado na chapa de Haddad, com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB).

No começo da semana, França chegou a informar ao comando do PSB e a candidatos do partido a sua decisão.

No vídeo, o ex-governador diz que havia se comprometi­do e que quem liderasse as pesquisas de intenção de voto poderia ser o candidato do campo político da esquerda na capital paulista.

“E aqui tem palavra, você sabe disso. É por isso que eu decidi apoiar agora a candidatur­a do Fernando Haddad para governador. Ele reuniu essas condições e está na frente nas pesquisas. E é a hora de defender antes de tudo a democracia”, diz o ex-governador.

No vídeo, França afirma ainda que em seus 40 anos de vida pública nunca viu “o Brasil numa situação tão grave”, cita a miséria e a fome e diz que o único caminho para mudar essa situação é “eleger juntos pessoas comprometi­das com o resgate de nossos direitos”.

“Nessa situação de emergência, nós temos que pensar em todos e não em projetos pessoais”, diz ele.

“Fernando, vai você. Nós vamos juntos! Vamos buscar os nossos melhores dias. Eu abro mão da candidatur­a porque eu não abro mão dos meus princípios. Sempre fui assim. A democracia vai prevalecer e eu continuo sendo o mesmo Márcio França que não abre mão dessa democracia”, continua o ex-governador.

Ainda na postagem, o França diz que segue sendo o mesmo de sempre, “independen­te, dono das minhas próprias ideias, sem medo e comprometi­do com o desenvolvi­mento” de São Paulo e do Brasil. O ex-presidente Lula retuitou o vídeo do ex-governador.

França deverá participar neste sábado (9) de ato em Diadema, Grande São Paulo, ao lado de Lula, Alckmin e Haddad. Também deverão comparecer representa­ntes dos partidos que compõem a coligação em torno da candidatur­a do ex-presidente.

O ex-governador vinha driblando a pressão do PT ao insistir na candidatur­a. Ele argumentav­a que teria chances de atrair eleitores de centrodire­ita refratário­s a Haddad.

No começo do ano, aliados do petista avaliavam que era positiva a presença de França na corrida eleitoral, porque o ex-governador disputaria votos do centro e da direita, atrapalhan­do o cresciment­o das candidatur­as do atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), que busca a reeleição, e do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republican­os), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Ainda assim, havia grande pressão pela desistênci­a de França.

O próprio Haddad defendia a união logo no primeiro turno. O ex-prefeito avaliava que o simbolismo desse gesto era mais forte do que cálculos eleitorais e que era importante refletir a aliança entre Lula e Alckmin no estado.

A pressão aumentou quando o líder sem-teto Guilherme Boulos (PSOL) desistiu de concorrer ao Palácio dos Bandeirant­es para se lançar deputado federal, em março, e, mais recentemen­te, com a desistênci­a do apresentad­or José Luiz Datena (PSC) de disputar o Senado por São Paulo.

Como a Folha mostrou, ao comunicar sua desistênci­a a aliados, França contou que impôs como condição ser o único candidato do Senado na coligação de Haddad.

A concordânc­ia com essa exigência contrariou o PSOL, que se diz excluído da negociação e ameaça lançar um candidato ao Senado caso não ocupe espaço majoritári­o.

O anúncio da desistênci­a de França é o terceiro fato político nesta semana que incide na disputa em São Paulo.

Na quarta (6), o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, informou a parlamenta­res da legenda a decisão de apoiar o ex-ministro Tarcísio de Freitas na disputa. O ex-prefeito Felício Ramuth (PSD) será o vice na chapa.

No dia seguinte, a União Brasil, partido com maior fundo eleitoral e mais tempo de televisão, anunciou seu apoio ao governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que busca a reeleição. Essa decisão ocorreu após o partido ameaçar romper com o tucano e o presidente da legenda, Luciano Bivar, admitir ter aberto conversas com Haddad e Tarcísio.

A última pesquisa Datafolha, em junho, mostrou Haddad com 34%, e Tarcísio e Rodrigo empatados com 13%.

A decisão de França também deverá impactar o cenário nacional —ainda há alguns estados onde o PT e o PSB não chegaram a um acordo para montagem de palanques.

Em encontro da cúpula do PSB no fim de junho, os dirigentes definiram que acertos com o PT seriam negociados em blocos, com vários estados ao mesmo tempo.

“Aqui tem palavra, você sabe disso.

É por isso que eu decidi apoiar agora a candidatur­a do Fernando Haddad para governador. Ele reuniu essas condições e está na frente nas pesquisas. Eéahorade defender antes de tudo a democracia

Márcio França (PSB) ex-governador, no vídeo em que anunciou sua desistênci­a da candidatur­a ao Palácio dos Bandeirant­es

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Bruno Rocha - 27.jun.22/agência Enquadrar/agência O Globo Márcio Franca (PSB) fala com empresário­s na Associação Comercial de São Paulo

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