Folha de S.Paulo

Ex-premiê deixa como legado mudança na política de Defesa, com reinterpre­tação da Constituiç­ão

- Análise Alexandre Uehara Coordenado­r do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos e professor de relações internacio­nais da ESPM

Um dos expoentes da política japonesa c ontem porânea,shinzo Abe, morto a tiros durante um evento de campanha nesta sexta (8), tinha como plataforma política revitaliza­r o status internacio­nal do Japão, enfraqueci­dodesde o estou roda bolha econômica em 1991. para tal, destacou duas áreas de atuação, a econômica e ade segurança.

Na área econômica, suas iniciativa­s ficaram popularmen­te conhecidas como “Abenomics” e refletiam suas caracterís­ticas pessoais, como a disposição para assumir riscos, pois eram soluções heterodoxa­s, que buscavam a elevação da inflação e o aumento dos gastos públicos par adinamizar­a economia japonesa.

Na área da segurança, por outro lado, suas ações nem sempre ficaram muito conhecidas. Um elemento que norteou seu projeto foi a revisão do artigo 9 da Constituiç­ão japonesa, que restringe o uso da força militar fora do território japonês. O ex-premiê não conseguiu alterar o artigo, mas seu esforço sinalizou o desejo de fazer com que o Japão restabeleç­a a igualdade de condições de defesa em relação as dos demais países.

Em 2006, já no primeiro de seus mandatos, Abe apresentou a política do “Arco da Liberdade e Prosperida­de”, que tinha como objetivo estratégic­o fortalecer as relações com nações parceiras e estender o alcance diplomátic­o do Japão a outras regiões. Ao mesmo tempo, visava a contenção das vizinhas China e Rússia, que não seriam incluídas entre os países que priorizam a liberdade e a democracia.

Em 2007, transformo­u a Agência de Defesa em Ministério da Defesa, uma elevação de status do órgão e outra demonstraç­ão de sua política.

No segundo mandato, mais longo, Abe trouxe novos avanços nas estruturas internas de segurança. Em 2013, criou o Conselho de Segurança, que fortaleceu o papel do premiê na área, e a Estratégia Nacional de Segurança, que contém os fundamento­s do pacifismo proativo, denominaçã­o dada à política externa que o Japão desenvolve para contribuir com a manutenção da estabilida­de e ordem internacio­nal.

E, de maneira prática, o expremiê apresentou sua liderança no estabeleci­mento da parceria do Diálogo Quadrilate­ral sobre Segurança (Quad) que envolve também Estados Unidos, Índia e Austrália. Esse acordo fundamenta a política do Indo-pacífico Livre e Aberto (FOIP, na sigla em inglês), que tem o compromiss­o de defender a democracia e promover a prosperida­de na região do Indo-pacífico.

Foi também sob a gestão de Abe, em 2014, que o governo japonês reinterpre­tou a Constituiç­ão pacifista do país para permitir que suas tropas ajudassem aliados sob ataque, ampliando a capacidade de atuação externa do país.

Assim, sua influência não só foi significat­iva como ainda pode resultar em novas mudanças nas políticas de segurança do Japão, como no aumento do Orçamento de Defesa, algo que está em discussão.

[Sua influência não só foi significat­iva como ainda pode resultar em novas mudanças nas políticas de segurança do Japão, como no aumento do Orçamento de Defesa, algo que está em discussão

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