Jornalismo pode funcionar em cenário hiperpolarizado?
Ben Smith, ex-editor do Buzzfeed e ex-colunista de mídia do jornal New York Times, fez nesta quinta-feira (7) uma entrevista pública com Tucker Carlson, da Fox News, como parte do lançamento de seu novo veículo, o Semafor.
Não faltou pressão contra o convite, mas Smith insistiu e, ao vivo, partiu para o ataque. “Por que você tem sido um papel pega-moscas para racistas?”, perguntou, depois de mostrar um vídeo de Carlson falando que os democratas querem mais imigrantes para “substituir” os eleitores americanos “legados” (legacy, em inglês) ou tradicionais.
De sua parte, Carlson acusou Smith de “servir” (carry water for, em inglês) àqueles “que têm todo o poder”, em referência aos democratas.
Foram 20 minutos de bateboca, o que por si só respondeu à questão oficial do evento, que era “se e como o jornalismo pode funcionar num cenário hiperpolarizado”. Pelo que se viu ali, não pode.
Por outro lado, terça à noite (5) no programa de Carlson, sobrou concordância durante uma entrevista com Glenn Greenwald, também temática sobre “cenários da mídia”.
O apresentador mostrou um trecho de sua conversa com Jair Bolsonaro, em que ele afirma que a Fox News seria “muito bem-vinda no Brasil”, onde não há “contraponto” fora do programa “The Dots on the I’s”, da Jovem Pan.
Carlson passou a palavra para Glenn Greenwald, que comentou: “Uma das coisas que existem nos Estados Unidos e não existem no Brasil é uma mídia mais pluralista, mesmo que seja só a rede Fox News”.
“O país tem sido dominado por quatro ou cinco famílias que controlam quase todos os meios. E a sua ideologia não é de direita ou esquerda, mas a preservação do poder estabelecido”, afirmou ele.
E agora, prosseguiu Greenwald em sua avaliação, “a esquerda brasileira fala sobre a Globo, há muito a sua pior inimiga, com gratidão e admiração”, porque ela “se tornou completamente hostil a Bolsonaro”. Este também é “repetidamente censurado pelas plataformas Big Tech. O Facebook e o Google estão ditando aos brasileiros o que eles podem e não podem ouvir, inclusive de seu presidente democraticamente eleito”.
Carlson encerrou o encontro dizendo que o Brasil “é um reflexo da nossa sociedade”.