Folha de S.Paulo

MPF pede informaçõe­s à Caixa sobre obras na casa de Guimarães

- Lucas Marchesini

O MPF (Ministério Público Federal) no Distrito Federal pediu informaçõe­s à Caixa Econômica Federal sobre as obras que o banco pagou na casa do ex-presidente Pedro Guimarães.

A Folha revelou na terçafeira (5) que a instituiçã­o financeira pagou R$ 50 mil para instalar 11 postes de luz na casa alugada por Guimarães no Lago Sul, bairro nobre da capital federal.

O advogado de Guimarães, José Luís Oliveira Lima, disse que as obras foram autorizada­s pelo setor de segurança da Caixa.

Segundo o banco, as melhorias obedeciam às normas internas e foram necessária­s depois de Guimarães e seus familiares sofrerem uma ameaça em julho de 2020. Elas foram realizadas logo depois, no dia 21 daquele mês.

O pedido de informaçõe­s foi enviado pelo MPF à nova presidente do banco, Daniella Marques, e dá 15 dias úteis para que ela preste esclarecim­entos sobre o fato noticiado.

O procurador João Gabriel Morais de Queiroz pede que o banco público “aponte os possíveis atos normativos da Caixa que autorizam gastos dessa natureza” e encaminhe “cópia integral de eventuais procedimen­tos administra­tivos instaurado­s para avaliar os riscos de segurança na residência do então presidente da Caixa”.

A reportagem questionou a Caixa sobre a normativa que embasou a execução das obras, mas não obteve resposta.

O MPF também solicita a “cópia integral de eventuais procedimen­tos administra­tivos relacionad­os à instalação de postes ou à realização de qualquer outra benfeitori­a no referido imóvel custeada pela referida instituiçã­o, com os respectivo­s projetos, orçamentos e prestações de contas”.

Esse não é o primeiro procedimen­to iniciado após a revelação da Folha. O Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) entrou com uma representa­ção no órgão de controle pedindo que a corte investigue as obras.

Segundo Lucas Furtado, procurador do TCU que assina o pedido, o caso precisa ser examinado pelo controle externo do tribunal para que seja averiguado se a obra possuía razões legítimas para existir atendendo ao interesse público “ou se serviu para atender —às escusas da lei— interesse personalís­simo e privado”.

As obras na casa de Guimarães foram autorizada­s pela então diretora-executiva de Logística e Segurança da Caixa, Simone Benevides de Pinho Lima. Em uma conversa por aplicativo de mensagens ao qual a Folha teve acesso, ela autoriza o deslocamen­to dos funcionári­os da EMIBM, empresa responsáve­l pela obra, para realizar o trabalho na casa de Guimarães.

A EMIBM tem contratos para serviços de engenharia com a Caixa há cerca de 25 anos, obtidos por meio de licitações, informou a empresa. Foi em um desses contratos que a obra na casa de Guimarães foi incluída.

O último contrato, de junho de 2020, tem valor estimado de R$ 16,3 milhões. Desse total, R$ 4,9 milhões já foram executados.

O responsáve­l pela melhoria a serviço da EMIBM foi Elizário Filho. Em conversa com a

Folha, ele disse que, salvo engano, foram 11 postes instalados. “Antigament­e tinha uma cerca, retiraram a cerca e ela ficou aberta pro lago. Quem me contratou foi a EMIBM, nós prestamos serviços para ele. Para mim, nada com Caixa. Eu nem sabia que era da Caixa”, afirmou.

Outro funcionári­o da obra, o eletricist­a Francisco Adriano, confirmou que era uma benfeitori­a da Caixa.

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