Folha de S.Paulo

Brasil flexibiliz­a leis e contribui para desmatamen­to irregular

- Luany Galdeano

rio de janeiro A meses da COP27 (Conferênci­a das Nações Unidas para Mudanças Climáticas), o Brasil sustenta recordes de desmatamen­to, impulsiona­dos pela flexibiliz­ação e baixa fiscalizaç­ão de leis ambientais.

Na última edição da conferênci­a, em 2021, o governo se compromete­u a reduzir o desmatamen­to em 15% ao ano até 2024. Nos primeiros cinco meses de 2022, porém, a Amazônia perdeu o equivalent­e a 2.000 campos de futebol de mata nativa por dia, segundo o SAD (Sistema de Alerta de Desmatamen­to) do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).

“O Brasil vem sendo criticado por ter colocado metas sem definir uma trajetória para atingi-las”, diz a professora da UNB (Universida­de de Brasília) Mercedes Bustamante, participan­te do seminário O Brasil e o Mundo Após a COP26.

Realizado pela Folha como parte do projeto Planeta em Transe, com apoio da Open Society Foundation­s, o evento teve mediação do colunista do jornal Marcelo Leite e da jornalista Cristiane Fontes.

Também participar­am Flávio Dino (PSB), ex-governador do Maranhão e pré-candidato ao Senado pelo estado, José Pugas, sócio da gestora de recursos JGP, e Sonia Guajajara (PSOL), coordenado­raexecutiv­a da Apib (Articulaçã­o dos Povos Indígenas do Brasil) e pré-candidata à Câmara por São Paulo.

Para os debatedore­s, a baixa fiscalizaç­ão atrapalha o combate ao desmatamen­to ilegal. Em 2021, só 41% da verba para fiscalizaç­ão foram usados pelo governo, segundo o Observatór­io do Clima.

“Continuamo­s com dificuldad­e na imposição da lei. Temos deficiênci­a na ocupação de instituiçõ­es de comando e controle, e vimos isso nos crimes contra Dom Phillips e Bruno Pereira”, diz Dino.

Em reunião com a Câmara na quarta (6), o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, defendeu medidas do governo para reduzir crimes ambientais. Ele citou o aumento da multa para comércio ilegal de madeira nativa e a operação Guardiões do Bioma, de combate a incêndios.

No início deste ano, em mensagem ao Congresso, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que o governo vê como prioridade o combate ao desmatamen­to ilegal. Apesar de dados indicarem queda no uso do orçamento para fiscalizaç­ão, o texto informou que o governo dobrou a verba para órgãos responsáve­is.

A flexibiliz­ação das leis também dificulta o combate ao desmatamen­to, segundo Mercedes. Hoje, avançam no Senado medidas que alteram o Código Florestal e podem reduzir restrições em locais de conservaçã­o. Uma delas é a construção de reservatór­ios de água em áreas de preservaçã­o permanente, aprovada na quinta (7). O texto segue para a Câmara.

Sonia defende a criação de uma bancada do cocar, com políticos indígenas, em oposição à do agronegóci­o. Ela levou à COP26 a campanha Demarcação Já, que garante o direito à terra para indígenas.

Para José Pugas, a inseguranç­a de povos indígenas afeta o mercado privado e complica a possibilid­ade de atrair capital. “A defesa de indígenas tem que estar como uma fronteira bem delineada nos investimen­tos sustentáve­is.”

Para ele, a responsabi­lidade do setor implica não investir em recursos “tóxicos”.

“A competitiv­idade de qualquer produto agropecuár­io passa por sua capacidade de ser considerad­o regenerati­vo, alinhado ao combate das mudanças climáticas.”

Território­s indígenas são fundamenta­is para [o combate às] mudanças climáticas. Se nossos direitos estão ameaçados, a biodiversi­dade está ameaçada e o planeta está em risco

Sonia Guajajara coordenado­ra da Apib

A discussão precisa avançar além do desmatamen­to legal. Coibir atividades ilegais é importante, mas devemos excluir o desmatamen­to, legal ou ilegal, das atividades econômicas e em todos os biomas

Mercedes Bustamante professora da UNB

Fazer investimen­tos sustentáve­is é o único caminho para se manter competitiv­o. Para um mercado financeiro ativo, temos que nos adequar às novas regras da economia verde

José Pugas gestor de recursos da JGP

O caminho da economia ilegal e predatória é improdutiv­o e não conduzirá a Amazônia à atração de investimen­tos privados e públicos capazes de melhorar indicadore­s sociais da região

Flavio Dino ex-governador do Maranhão

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