Folha de S.Paulo

Finais inesperada­s em Wimbledon

Títulos do tradiciona­l torneio podem ficar com tenista russa e jogador mais polêmico

- Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University College

Quando os organizado­res de Wimbledon anunciaram a exclusão de russos e belarussos desta edição do torneio por causa da invasão da Rússia à Ucrânia, um outro motivo, não oficial, começou a circular.

A decisão seria também para evitar que a duquesa de Cambridge entregasse os troféus a atletas desses dois países caso vencessem e que a imagem fosse usada como propaganda política por Vladimir Putin.

No entanto, se assim como

na vida no esporte não se controla tudo, é possível que, no ano do centenário da quadra central, Kate Middleton dê os parabéns não só a uma russa mas também ao tenista mais polêmico do circuito.

A final feminina deste sábado (9) não terá a número um do mundo, a polonesa Iga Swiatek, nem a campeã de 2019, a romena Simona Halep, mas Elena Rybakina, que nasceu na Rússia e mora em Moscou. Rybakina defende o Cazaquistã­o há quatro anos e, por isso, pode competir. Vai enfrentar

Ons Jabeur, da Tunísia, primeira africana a disputar uma decisão do torneio.

É impossível não simpatizar com a atual vice-líder do ranking. Jabeur posta vídeos com torcedores tunisianos em Wimbledon, diz que quer servir de inspiração para mulheres árabes e africanas e, pelo bem que está fazendo ao esporte em seu país, ganhou dos fãs o apelido de “Ministra da Felicidade.” Será a primeira final de Grand Slam de ambas, e, independen­temente de quem ganhar, haverá uma boa

história para contar.

Já o masculino terá no domingo (10) dois especialis­tas na grama em uma final que até pouco tempo também seria improvável. Novak Djokovic tinha a participaç­ão em risco porque não quis se vacinar contra a Covid-19, mas o sérvio pôde entrar na Inglaterra sem quarentena já que o governo britânico retirou restrições para não imunizados.

Isso virou o menor dos problemas, já que do outro lado da quadra estará Nick Kyrgios, o tenista mais barraqueir­o em atividade no planeta. Só nesta edição, bateu boca com árbitros, cuspiu na direção de um torcedor e quebrou o código que obriga tenistas a vestir branco ao usar um boné vermelho em quadra ao fim de uma partida e se justificar dizendo: “Eu faço o que eu quero”.

Ao perder na terceira rodada para Kyrgios, o grego Stefanos Tsitsipas desabafou na entrevista coletiva. Com ar frustrado, disse que o australian­o —de quem é, ou era, amigo— é uma pessoa cansativa porque está sempre reclamando, faz bullying com os rivais e tem um lado mau dentro dele.

Falou ainda que os atletas deveriam se unir contra ele para que seu comportame­nto não fosse mais tolerado.

Nesta semana, estourou a notícia de que, em agosto, ele irá a julgamento perante a Justiça australian­a, acusado de agredir a ex-namorada. Kyrgios enfrentari­a Rafael Nadal na semifinal, mas o espanhol lesionou o abdômen e precisou abandonar a competição.

Djokovic, atual número três do mundo, vai em busca da sétima conquista em Wimbledon e é favorito. Se vencer, chegará a 21 títulos de Grand Slam e se aproximará do recorde de 22 de Nadal. Não deve ter muito apoio da torcida, já que eliminou o britânico Cameron Norrie na semifinal.

Além disso, há quem goste do comportame­nto, digamos, “excêntrico” de Kyrgios em quadra. Resta saber se o australian­o que não gosta de treinar e ocupa a 40ª posição do ranking vai levar a sério a primeira final de simples de Grand Slam da vida dele, se vai preferir ser lembrado por aqui pelo bom tênis que joga, quando quer.

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