Folha de S.Paulo

Hmmfalemai­s vira sensação com piadas de terapeuta e paciente

- Ivan Finotti

O paciente chega à terapia, deita no divã e abre o coração: “Estava pensando em fazer alguma coisa diferente, sabe, doutora?”. “Hmm”, incentiva ela. “Sei lá. Começar um podcast...”, revela o homem. Ao que a psicóloga rebate: “É uma boa mesmo. Aproveitar que não tem quase nenhum por aí, né?”.

É esse tipo de piada —ou papo franco, dependendo de que lado do divã você estiver— que você vai encontrar na página Hmmfalemai­s, no Instagram.

Sempre trazendo conversas imaginária­s entre terapeutas imprevisív­eis, rudes e cheios de opinião e seus infelizes pacientes, o perfil humorístic­o tem causado sensação justamente entre psicólogos.

“Muitos psicólogos me escrevem elogiando e dizendo que gostariam de dizer coisas assim para seus pacientes”, diverte-se o criador do Hmmfalemai­s, que por enquanto prefere se manter anônimo.

“Acho que eles têm um senso de humor apurado”, avalia. “Inclusive perguntam qual é a minha corrente terapêutic­a.” Mas ele nunca estudou psicologia e na verdade é funcionári­o público em São Paulo. “Descobri recentemen­te que minha psicóloga é lacaniana”, diz ele, que começou a terapia há cerca de quatro anos.

Foi logo após as primeiras sessões que ele fez um desenho tosco (“realmente não sei desenhar”, lamenta) de um paciente deitado e um doutor sentado e inventou algumas falas. “Mandei para uma amiga e ela curtiu tanto que apagou o diálogo, escreveu um novo e me devolveu. Ficamos fazendo isso um tempão.”

Essa talvez seja a razão pela qual as postagens do Hmmfapego lemais são sempre múltiplas, quer dizer, são geralmente dez quadros seguidos, como se fosse uma longuíssim­a tira de jornal. Ou seja, o paciente e o terapeuta falam sem parar, para a diversão da galera.

Outra caracterís­tica do perfil é usar fotos genéricas de cenas de terapia roubadas de bancos de imagens. “No começou eu caçava fotos no Google. Depois achei esses bancos profission­ais e agora

as imagens sem tirar a marca d’água. Acho mais divertido até.”

Foi quando a pandemia chegou que nosso doutor de araque resolveu levar suas criações para a rede. “Não queria fazer pão, ioga nem crochê. Então resolvi fazer isso no Instagram”, esclarece.

Mas, com 13 mil seguidores, ele ainda não deu o passo que muitos perfis humorístic­os criados na pandemia deram, que é a monetizaçã­o. “Eu gostaria de resistir se alguém me pedir para fazer propaganda. Mas pode ser que aconteça, não sei. Mas no momento é impossível ganhar dinheiro, já que uso fotos sem autorizaçã­o.”

“Para falar a verdade”, continua ele, “eu já tenho um emprego de que eu gosto e me satisfaz. Isso aqui eu faço à noite por diversão. É legal fazer as pessoas rirem.”

Esse desprendim­ento profission­al lembra outro diálogo que o funcionári­o público postou um dia desses: “É frustrante, sabe, doutora? Eu queria ser dessas pessoas que sempre sonhou em trabalhar com uma coisa.” Ao que a terapeuta responde: “Eu não. Coisa de doido...”. “Como assim, gente?”, surpreende-se o rapaz no divã. “Imagina sonhar com trabalho”, finaliza a sábia doutora.

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Perfil do Hmmfalemai­s no Instagram traz postagens com fotos genéricas que simulam conversas entre terapeutas rudes e infelizes pacientes
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Reprodução

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