Folha de S.Paulo

Coleção explora como o barroco de Caravaggio mudou a pintura

- Nina Rahe

“Entre Luzes e Sombras”, nono volume da Coleção Folha Grandes Pintores, explica por que Caravaggio não é o último artista do Renascimen­to, mas o primeiro da era moderna. “Sem ele, a arte de Delacroix, Courbet e Manet teria sido profundame­nte diferente”, afirma o historiado­r de arte italiano Roberto Longhi.

Em análises que abordam de pinturas iniciais até a última tela documentad­a, a coleção passa dos elementos que caracteriz­am seu primeiro estilo ao intenso claro-escuro que se tornaria sua principal marca.

O artista pintava diretament­e sobre a tela, sem estudos nem desenhos preparatór­ios. Outro aspecto inovador em sua obra era a forma como misturava gêneros, com óleos que incluíam naturezas-mortas e retratos.

Já a única natureza-morta pintada por ele sem a presença humana traz frutas com grande realismo —elas contêm buracos de bicho, manchas e folhas murchas. Ele acreditava que representa­r objetos exigia tanto trabalho e cuidado quanto representa­r figuras, o que contrariav­a o pensamento clássico de que a pintura histórica, com personagen­s, era superior a todas as outras.

O livro da coleção enfatiza também como o pintor se dedica, durante sua trajetória, a cenas recorrente­s, entre elas, a cabeça decepada. É como ele retrata a Medusa, que era tradiciona­lmente representa­da em armaduras e escudos.

Com grandes encomendas públicas, a reputação de Caravaggio era tanta que nem mesmo as brigas, os processos de difamação e o porte ilegal de armas, que o levavam à cadeia com frequência, conseguiam prejudicar sua trajetória.

Em 1606, no entanto, ele foi obrigado a deixar Roma depois de ferir o procurador e mercenário Ranuccio Tomassoni. Mas, mesmo condenado à morte, vagando entre Nápoles e as ilhas de Malta e Sicília,

Caravaggio não deixou de pintar. As telas dessa época, como “A Flagelação de Cristo”, de 1607, renunciam a um brilhantis­mo e tendem ao monocromát­ico, com formas mais esboçadas e menos precisas.

Quando o artista decidiu retornar a Roma, foi detido por engano em Palo, o que fez com que perdesse a sua embarcação. Ele decidiu então seguir a pé pelo litoral, mas morreu em 18 de julho de 1610 sem saber que o papa o perdoaria alguns dias depois.

Apesar de não ter ateliê nem aluno, artistas da França, da Holanda, de Flandres e da Espanha se apropriara­m da estética de Caravaggio e disseminar­am sua arte. Dentre seus seguidores, há desde o conterrâne­o Gentilesch­i, que, por causa de sua iluminação límpida, se tornaria um dos divulgador­es de uma versão suave do caravagism­o, até Ribera, que pegou emprestada a harmonia cromática do italiano para acentuar elementos naturalist­as e os volumes na tela.

 ?? Reprodução ?? ‘A Flagelação de Cristo’, obra de Caravaggio
Reprodução ‘A Flagelação de Cristo’, obra de Caravaggio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil