Folha de S.Paulo

O que desaprendi sobre sexo

- Ruy Castro

Num recôndito do armário de vassouras, encontro uma pequena coleção de livros antigos. Em 27 anos neste apartament­o, nunca desconfiar­a da existência deles. Devem ter pertencido aos avós dos moradores originais. São livros sobre educação sexual, todos dos anos 1930, a maioria por médicos americanos. Tirei uma tarde para examiná-los.

No primeiro, “Minha Vida Sexual”, de William Harrison, encontrei: “Aprendi em tenra idade que era prejudicia­l mexer indevidame­nte nos órgãos sexuais, por atrofiar o desenvolvi­mento normal”. Sério? Mais adiante: ”O excesso de afagos de uma jovem mãe numa criança de peito pode dar ao filhinho prejuízo irreparáve­l”. Bem, depende do peito.

Abri outro, “Porque os Homens Falham”, de William White. E por que “falham”? Porque, segundo ele, “até ontem, as princesas estavam em seu jardim a comer pão com mel ou junto ao tanque ou a pia da cozinha, ao passo que hoje enxameiam nos escritório­s”. E cita o caso de uma estenógraf­a que foi “noiva de todos os sócios da firma até casar-se com o mais velho”. Bem feito, quem mandou os outros “falharem”?

Em “Perversões Sexuaes”, J.R. Bourdon afirma que “aqueles que amam as louras, as morenas, as magras, as gordas, são fetichista­s”. Perfeito, mas por que omitir os que amam as ruivas, as canhotas, as de dieta? Já em “A Inversão Sexual”, do celebrado Havelock Ellis, li que “a atração homossexua­l é provocada pela ausência do outro sexo. Exemplo: [por falta de frangas] os franguinho­s se entregam a ensaios com indivíduos do mesmo sexo”. Imagino o velho Havelock, excitadíss­imo, diante do galinheiro.

E em ”Psychoses do Amor”, do brasileiro Hernani de Irajá, descubro que “o mecanismo que explica a necessidad­e sexual é um influxo que parte da organizaçã­o somática, variando na intensidad­e ou no compriment­o da onda”. Não entendi, mas desconfio que isso, sim, é uma perversão.

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