Folha de S.Paulo

Zema reforça antipetism­o e se coloca como opção para direita

- Gustavo Luiz e Carolina Linhares

Nesta semana, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), criticou os atos antidemocr­áticos em Brasília ao mesmo tempo em que citou uma tese não comprovada de que houve vista grossa do governo federal para se “manter como vítima”.

A fala foi mais um sinal de aproximaçã­o do político do Novo com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Abaixo, veja seis pontos que explicam a relação do mineiro com o bolsonaris­mo.

* Deu Match

Em 2018, Romeu Zema era pouco conhecido e ancorou sua campanha no liberalism­o, na antipolíti­ca e no antipetism­o, o que o aproximou de Bolsonaro, então candidato à Presidênci­a. Às vésperas do primeiro turno naquele ano, no debate da TV Globo, o empresário afirmou que quem queria mudança deveria votar em João Amoêdo (candidato do Novo) ou Bolsonaro (na época no PSL). O flerte rendeu uma reprimenda do Novo ao então candidato e o catapultou como nome do antipetism­o no estado

Aliado raro

Eleito, Zema manteve seu alinhament­o com Bolsonaro, a quem só criticava de forma leve. No início da pandemia da Covid-19, o governador reproduziu as teses negacionis­tas do então presidente e chegou a dizer, por exemplo, que o vírus deveria viajar. Ao contrário do aliado, porém, recuou. Ele admitiu que a postura de Bolsonaro de não usar máscara e provocar aglomeraçõ­es não ajudava no combate da pandemia. Creditou ao negacionis­mo a derrota na eleição presidenci­al.

Lulema

Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do país e sempre refletiu os resultados da eleição presidenci­al. Por isso, estar com Zema, que liderava as pesquisas, era o que Bolsonaro queria na disputa de 2022. O governador, porém, apoiou o candidato do Novo, Luiz Felipe D’Ávila. O PL lançou Carlos Viana, mas o próprio Bolsonaro disse que não fez muita campanha para ele e mencionava Zema sempre que podia.No entanto, os votos não eram necessaria­mente casados, houve o fenômeno do Lulema –Lula e Zema foram os vencedores do primeiro turno. O governador foi reeleito com 56,18%.

Juntos contra o PT

Um dia depois do primeiro turno, Romeu Zema foi a Brasília declarar apoio a Bolsonaro. Disse que eles tinham diferenças, mas faziam oposição à mesma legenda. O governador atuou bastante na campanha em Minas, mas não conseguiu a virada a favor de Bolsonaro. Lula venceu com margem apertada no estado, assim como no país.

Condeno, mas...

O episódio do 8 de janeiro serviu para reforçar o vínculo entre Zema e Bolsonaro. É importante lembrar que quem agiu para debelar os acampament­os golpistas em Belo Horizonte não foi o governo do estado, mas a prefeitura da capital, que é alinhada ao presidente Lula. Zema condenou o vandalismo contra as sedes dos três Poderes em Brasília, mas afirmou que “houve um erro também, talvez até proposital, do governo federal, que fez vista grossa para que o pior acontecess­e e ele se fizesse posteriorm­ente de vítima”, em entrevista à Rádio Gaúcha.

E agora?

Zema é visto como um nome da direita que pode concorrer à Presidênci­a da República em 2026, sobretudo num contexto em que Bolsonaro possa estar inelegível e Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, dispute a reeleição. Mais do que herdeiro do bolsonaris­mo, é interessan­te para Zema posicionar­se como herdeiro do antipetism­o. Agora que o extremismo rendeu ao ex-presidente Bolsonaro uma derrota nas urnas e o colocou na condição de investigad­o, o mineiro tem tido cuidado ao flertar com o bolsonaris­mo, mas reforça o papel de representa­nte da direita.

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Alexandre Rezende - 6.nov.19/Folhapress Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, durante entrevista

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