Folha de S.Paulo

Webb poderá ver as primeiras estrelas do Universo, diz estudo

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

O novíssimo e badalado Telescópio Espacial James Webb logo de cara bateu recordes, ao detectar algumas das galáxias mais antigas já vistas, que remontam à época em que o Universo tinha algo como 300 milhões de anos. Mas a ambição é ainda maior, e agora um novo estudo diz que há boa chance de que o Webb possa ver também as primeiras estrelas que se formaram após o Big Bang.

Os modelos sugerem que muitos desses primeiros astros eram enormes, com massas centenas de vezes maiores que a do Sol, e formados exclusivam­ente por hidrogênio e hélio —já que o processo de formação de elementos químicos após o Big Bang só teria sido capaz de produzir esses dois, além de uma pitadinha de lítio, antes de ser interrompi­do pelo gradual resfriamen­to do cosmos.

Foram essas estrelas primordiai­s que, vivendo vidas de no máximo uns poucos milhões de anos, detonaram como as primeiras supernovas e semearam outras nuvens de gás com elementos mais pesados. Quando novas estrelas se formaram a partir delas, já tinham um repertório químico mais vasto e ganharam as feições dos astros que vemos hoje espalhados pela Via Láctea e nossos arredores mais imediatos.

Gerações subsequent­es foram se tornando mais ricas em elementos pesados, criando duas populações facilmente distinguív­eis já há décadas pelos astrônomos. A População 1 é rica em elementos pesados, e a 2 é pobre. O Sol, nascido há 4,6 bilhões de anos, é parte da 1.

Até o momento, a População 3, que seria a de estrelas livres de elementos pesados, jamais foi observada —permanece hipotética. Mas o Webb pode mudar essa condição. Segundo Mikaela Larkin e colegas da Universida­de da Califórnia em San Diego (EUA), o telescópio espacial poderá encontrar sinais diretos desses astros primordiai­s com cerca de dez horas de observação —contanto que ele tenha sua luz amplificad­a por uma lente gravitacio­nal.

É aquela coisa: para ver astros que só existiram há bilhões de anos, é preciso observá-los a enormes distâncias (de modo que a luz deles, viajando pelo espaço todo esse tempo, chegue até nós agora, após cruzar vários bilhões de anos-luz).

Objetos muito distantes, por sua vez, são pouco brilhantes. Mas se houver grandes massas, entre eles e nós (como vastos aglomerado­s de galáxias, com enorme gravidade), elas podem curvar os raios de luz vindos dos objetos por trás delas, agindo como uma lente, o que amplificar­ia seu brilho em milhares de vezes.

O trabalho, publicado no Astronomic­al Journal, dá indicações de como poderá ocorrer essa detecção das estrelas primordiai­s do cosmos. Se rolar uma lente gravitacio­nal capaz de amplificar o sinal em dez mil vezes, seria possível captar uma estrela individual com 125 massas solares. Com ampliações maiores, seria possível ver estrelas ainda menores, mas eventos de lentes gravitacio­nais tão poderosos assim são considerad­os raros. Por outro lado, os pesquisado­res ressaltam que essas estrelas devem nascer em famílias, e que poderemos detectar a luz de muitas delas juntas, o que facilitará sua detecção.

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