Folha de S.Paulo

Lula assume comando das Forças

- Cristina Serra helio@uol.com.br

Lula tem feito apelos à pacificaçã­o do país e é um conciliado­r. Mas esse perfil não pode ser confundido com falta de autoridade. Foi o que o presidente deixou claro ao assumir seu papel de comandante supremo das Forças Armadas e determinar a exoneração do general Júlio César de Arruda da chefia do Exército.

Arruda dera seguidas mostras de insubordin­ação à autoridade presidenci­al, desde que impedira o desmonte do acampament­o de terrorista­s em frente ao QG do Exército, na noite de 8 de janeiro, com a segurança do DF já sob intervençã­o federal. Arruda esticou a corda e peitou Lula, achando que ficaria por isso mesmo. Não ficou.

Lula o substituiu pelo general Tomás Ribeiro Paiva, comandante militar do Sudeste. Na quarta-feira (18), com a crise em torno de Arruda em ponto de fervura, Paiva aproveitou cerimônia interna com a tropa para fazer uma defesa da legalidade e do respeito às eleições (o discurso foi divulgado nas redes sociais do comando). Três dias depois, Paiva seria nomeado o sucessor de Arruda.

A defesa da legalidade é bemvinda, mas só pode ser considerad­a extraordin­ária diante do cenário de anômala partidariz­ação das Forças Armadas no Brasil. Convém lembrar que Paiva foi chefe de gabinete de Eduardo Villas Bôas, o general tuiteiro que, em abril de 2018, pressionou o STF na véspera da votação do habeas corpus de Lula. O resto você sabe.

Defender a legalidade, a democracia e a normalidad­e institucio­nal é obrigação de qualquer militar decente e comprometi­do com seu país. Paiva terá que investigar a cadeia de comando permissiva (ou cúmplice?) diante do assalto terrorista ao Planalto, que envolve o Batalhão da Guarda Presidenci­al e o Comando Militar do Planalto.

Também terá que decidir sobre a reversão da nomeação do office boy de Bolsonaro para o comando de unidade militar estratégic­a, em Goiânia. Tais tarefas exigirão bem mais do que a já conhecida loquacidad­e do novo comandante.

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