Folha de S.Paulo

Bolsonaro dobrou número de PMs e bombeiros na Presidênci­a

- Ranier Bragon

BRASÍLIA O presidente Jair Bolsonaro chegou ao fim do seu mandato com 85 policiais militares e bombeiros do Distrito Federal requisitad­os para trabalhar na Presidênci­a, quase o dobro em relação ao período anterior à sua chegada ao Palácio do Planalto.

A PM do Distrito Federal foi alvo de questionam­ento pelas falhas de atuação nos ataques golpistas que depredaram a sede dos três Poderes, no dia 8, o que motivou intervençã­o federal na segurança pública da capital da República.

Dados do Painel Estatístic­o de Pessoal do Ministério da Fazenda mostram que a gestão Bolsonaro não só elevou o contingent­e de PMs e bombeiros ao seu redor, como pulverizou sua participaç­ão em outros órgãos do governo.

Em novembro de 2018, no final da gestão de Michel Temer (MDB), havia 63 PMs e bombeiros do DF trabalhand­o no governo: 57 na Presidênci­a, 5 no Ministério de Desenvolvi­mento Regional, e 1 na Vice-Presidênci­a.

Em novembro do ano passado (mês com as informaçõe­s mais recentes), eram 110 —85 na Presidênci­a e os outros 25 espalhados por outros nove órgãos federais.

Nos ministério­s, o principal contingent­e de policiais do DF estava na Justiça, pasta comandada à época por Anderson Torres, ex-secretário de Segurança do DF e hoje preso sob suspeita de omissão nos ataques golpistas do dia 8.

Como a Folha mostrou na quinta-feira (19), Bolsonaro também chegou ao fim do seu mandato com um elevado contingent­e de integrante­s do Exército, da Marinha e da Aeronáutic­a trabalhand­o na Presidênci­a, mantendo os números recordes verificado­s durante sua gestão.

Eram 1.231 membros da ativa das Forças Armadas, contra 1.026 em novembro de 2018.

Capitão reformado do Exército, Bolsonaro por várias vezes se escorou em um alegado suporte das Forças Armadas em sua retórica antidemocr­ática, pregação que se converteu na principal inspiração política dos vândalos golpistas que depredaram as sedes dos três Poderes.

Ao assumir um cargo na Presidênci­a ou em órgãos do Executivo, o militar da ativa ou o policial militar do DF recebe um incremento na sua remuneraçã­o, até o limite do teto salarial do funcionali­smo.

Desde os ataques do dia 8, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem feito críticas a militares e a PMs do DF que teriam participad­o ou sido coniventes com o vandalismo.

No sábado (21), Lula demitiu o comandante do Exército, o general Júlio Cesar de Arruda, a primeira baixa de maior relevo em 21 dias de gestão.

Em entrevista à GloboNews, o petista disse que nenhum dos órgãos de inteligênc­ia foi capaz de alertá-lo sobre os ataques e que qualquer militar que participou dos ataques será punido, “não importa a patente ou a Força”.

Conforme a Folha revelou nesta sexta-feira (20), militares da Ativa da Marinha, Exército e Aeronáutic­a que trabalhava­m na Presidênci­a da República sob Bolsonaro participav­am de grupo de WhatsApp em que teses golpistas e violentas eram discutidas e estimulada­s, além de frequentar­em o acampament­o antidemocr­ático montado por extremista­s em frente ao quartel-general do Exército.

Os dados do painel estatístic­o do Ministério da Fazenda não incluem os militares e policiais da reserva que também foram empregados em larga escala por Bolsonaro no governo, inclusive no primeiro escalão.

Um exemplo é o hoje ministro do Tribunal de Contas da União Jorge Oliveira. Ex-policial militar do Distrito Federal, onde atingiu a patente de major, Oliveira assessorou Bolsonaro na Câmara dos Deputados e, antes da indicação ao TCU, foi ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a, de 2019 ao final de 2020.

A Folha não conseguiu contato com o ex-presidente Jair Bolsonaro. A assessoria de imprensa do governo do Distrito Federal afirmou que dos militares cedidos ao governo “geralmente são selecionad­os por ele e requisitad­os à nossa corporação” e que não cabe ao órgão fazer comentário­s sobre critérios e motivações das requisiçõe­s.

Dos 85 policiais militares que em novembro estavam cedidos à Presidênci­a, atualmente 42 são bombeiros. A assessoria não informou o número atual exato dos PMs trabalhand­o no Executivo.

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