Folha de S.Paulo

Governo recebe 100 mil denúncias sobre possíveis vândalos

- Uirá Machado

SÃO PAULO O Ministério da Justiça e Segurança Pública já recebeu mais de 100 mil denúncias sobre pessoas que possam ter participad­o de alguma maneira dos ataques golpistas contra a sede dos três Poderes, em Brasília, no último dia 8 de janeiro.

O material tem sido enviado por denunciant­es para o email denuncia@mj.gov.br, criado pelo ministro Flávio Dino (Justiça) como uma das respostas à intentona do dia 8 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal).

De acordo com Marivaldo Pereira, secretário de Acesso à Justiça e responsáve­l pela análise do conteúdo enviado, as informaçõe­s estão sendo examinadas e encaminhad­as para ajudar nas investigaç­ões da Polícia Federal.

“Vamos analisar de forma inteligent­e, priorizand­o financiado­res, organizado­res, pessoas que de fato estavam presentes no local e destruíram patrimônio histórico, patrimônio público”, disse.

“Estamos usando ferramenta­s para fazer filtros e selecionar as informaçõe­s que, neste momento, possam nos ajudar de forma estratégic­a. O que parecer consistent­e, a gente encaminha para a PF, que faz a investigaç­ão para confirmar ou não a denúncia”, afirma o secretário.

Muitas das mensagens recebidas pelo ministério da Justiça contêm elementos adicionais, como prints de WhatsApp com a convocação para o ato golpista e pedidos de Pix para financiar o ataque. Outras trazem dicas menos sólidas, como endereços eletrônico­s ou apenas nomes.

Com base nesses conteúdos, a secretaria faz uma primeira triagem do material para acelerar o processo, mas não descarta de início nenhuma denúncia. A princípio, os nomes identifica­dos pela pasta têm sido mantidos em sigilo.

“Isso porque tem nomes com pedido de prisão tramitando, tem nomes com processo, então é bom não divulgar para não expor e para não atrapalhar as investigaç­ões”, afirma Marivaldo.

As denúncias caminham em paralelo ao trabalho que já está sendo feito pela polícia e pelo Judiciário desde o dia 8.

Na última sexta-feira (20), por exemplo, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, concluiu a análise da situação dos presos por envolvimen­to nos ataques.

Dos 1.406 detidos, 942 tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva (sem prazo determinad­o) e 464 obtiveram liberdade provisória, mediante medidas cautelares.

Sobre os que tiveram a prisão convertida, o ministro avaliou que “houve flagrante afronta à manutenção do Estado democrátic­o de Direito, em evidente descompass­o com a garantia da liberdade de expressão”.

Ele considerou haver provas nos autos da participaç­ão efetiva de cada um desses investigad­os em uma organizaçã­o criminosa que atuou para tentar desestabil­izar as instituiçõ­es republican­as em busca de um golpe de Estado.

“É muito importante que essas pessoas que praticaram esses crimes, que financiara­m, que organizara­m esses crimes, sejam devidament­e punidas, para que a gente não tenha que passar quatro anos tendo que lidar com esse tipo de coisa”, diz Marivaldo.

No dia do ataque, as forças de segurança demoraram a agir, o que facilitou a chegada dos vândalos aos prédios públicos e dificultou a prisão em flagrante de muitos deles.

“Não deveria ter sido um problema para a polícia do Distrito Federal. Eu já estive em manifestaç­ões aqui no passado. A gente não podia entrar com mastro de bandeira na Esplanada, não podia entrar com latinha de bebida, tinha revista de mochilas”, diz o secretário de Acesso à Justiça.

O vandalismo levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a decretar a intervençã­o federal na área de segurança do Distrito Federal.

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Gabriela Biló - 8.jan.23/Folhapress Vândalo segura barra de ferro durante os ataques de 8 de janeiro

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