Folha de S.Paulo

Torres diz em audiência ao STF que nunca questionou eleição

- José Marques

BRASÍLIA O ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro Anderson Torres disse em audiência de custódia logo após ser preso, no último dia 14, que jamais questionou o resultado da eleição presidenci­al vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Torres, que era secretário da Segurança Pública do Distrito Federal, estava nos EUA quando ocorreram os ataques às sedes dos três Poderes, em 8 de janeiro, e foi exonerado no mesmo dia. Sua prisão foi determinad­a pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, no dia 10.

Na audiência de custódia, o preso é ouvido por um juiz, que avalia se houve eventuais ilegalidad­es na prisão. A de Torres foi conduzida pelo juiz Airton Vieira, auxiliar do gabinete de Alexandre de Moraes.

O ex-secretário disse na audência que sempre fez o trabalho com profission­alismo, não era filiado a partido e ocupou posição política em razão do resultado do seu trabalho.

“Essa acusação me pegou muito de surpresa, a audiência de custódia não é o local de falar nada sobre isso, mas quero dizer que não tenho nada a ver com os fatos, isso foi um tiro de canhão no meu peito, eu estava de férias, umas férias sonhadas por mim e pela minha família”.

Ele foi o primeiro ex-ministro da Justiça a ser preso desde a redemocrat­ização e o primeiro ex-integrante do governo Bolsonaro preso em consequênc­ia dos atos antidemocr­áticos.

Na audiência, Torres disse que chegou ao ministério “em um momento delicado” na relação entre os Poderes e que, à época, visitou todos os ministros do STF.

“Eu estava nos Estados Unidos e tive essa notícia [da depredação], tive que vir rápido depois da notícia da minha prisão e da busca e apreensão na minha casa, comprei uma passagem caríssima, tirada do meu salário. Não tenho outra renda e preciso de oportunida­de para falar isso, para me defender, para falar que não dei causa aos fatos”, afirmou.

“Do jeito que eu saí, o que eu deixei assinado, eu deixei tranquilo, porque nem se caísse uma bomba em Brasília teria ocorrido o que ocorreu”, disse.

“Desculpe o desabafo, mas sendo acusado de terrorismo, golpe de Estado?! Pelo amor de Deus, o que está acontecend­o?! Eu não sei... Essa guerra que se criou no país, essa confusão entre os Poderes, essa guerra ideológica, eu não pertenço a isso, eu sou um cidadão equilibrad­o e essa conta eu não devo”.

Torres foi nomeado ministro em março de 2021, com a saída de André Mendonça. Antes, era secretário de Segurança Pública do DF.

O ex-ministro havia reassumido o comando da secretaria em 2 de janeiro e viajou de férias cinco dias depois. Foi exonerado do cargo, por Ibaneis Rocha (MDB), horas antes do afastament­o do próprio governador do DF por ordem do STF.

No dia 12, a Folha revelou que, durante a operação de busca e apreensão na residência de Torres, a Polícia Federal encontrou uma minuta (proposta) de decreto para o então presidente Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Moraes determinou que a PF colha o depoimento de Torres no próximo dia 2. Na decisão desta segunda (23), afirmou que o prazo garantirá à defesa o tempo necessário para análise dos autos antes do interrogat­ório.

Torres é investigad­o em inquérito que tramita no STF para apurar a responsabi­lidade pelas falhas na segurança local que permitam a depredação das sedes dos três Poderes. Na primeira tentativa de ouvi-lo, na quarta (18), o ex-secretário ficou em silêncio.

“Não tenho nada a ver com os fatos, isso foi um tiro de canhão no meu peito, eu estava de férias, umas férias sonhadas por mim e pela minha família

Anderson Torres ex-secretário de Segurança Pública do DF, em audiência de custódia, sobre o 8/1

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