Folha de S.Paulo

Maduro acusa a direita argentina e cancela encontro; petista reforça acenos a Caracas

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buenos aires Marcada para esta segunda-feira (23), em Buenos Aires, uma reunião bilateral entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, foi cancelada por decisão de Caracas.

A informação, dada inicialmen­te pela assessoria da Presidênci­a brasileira, foi mais tarde confirmada por um comunicado oficial que o regime divulgou para explicar o cancelamen­to da viagem de Maduro à Argentina —atribuído a uma suposta movimentaç­ão da oposição argentina.

“Nas últimas horas fomos informados de que há um plano elaborado no seio da direita neofascist­a cujo objetivo é levar a cabo uma série de agressões contra nossa delegação para montar um show deplorável, com a finalidade de perturbar os efeitos positivos de uma reunião regional tão importante e, desse modo, contribuir com uma campanha de descrédito, já fracassada, empreendid­a pelo império dos EUA”, diz o texto, sem detalhar qual seria o plano “extravagan­te desenhado por extremista­s”.

O comunicado foi divulgado depois de uma entrevista coletiva de Lula e Fernández, em que o brasileiro afirmou que a audiência que teria com Maduro teve que ser cancelada e “vai ficar para outra oportunida­de”.

Nos últimos dias, a capital argentina teve protestos contra a provável visita do ditador, cujo convite para participar da cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) foi mantido pelo presidente —a nota do regime confirma a ida do chanceler Yvan Gil para o evento.

À Folha Fernández afirmou que o colegiado é um espaço do qual a Venezuela faz parte e criticou a opositora Patricia Bullrich, que havia pedido que fosse emitida uma ordem de prisão contra Maduro no caso de ele entrar no país. “Bullrich diz muitas coisas, é preciso lembrar que ela se vendia como a ‘Bolsonaro argentina’.”

Em fala na abertura de um fórum com empresário­s, Lula voltou a defender o regime venezuelan­o, citando a necessidad­e de “respeitar a autodeterm­inação dos povos” em qualquer país.

“Da mesma forma que sou contra a ocupação territoria­l que a Rússia fez na Ucrânia, sou contra muita ingerência nos processos da Venezuela. E, para resolver o problema da Venezuela, vamos resolver com diálogo, não com bloqueio, com ameaça de ocupação”, afirmou.

Maduro fez uma aparição em Caracas nesta segunda, em um ato em lembrança do fim da ditadura militar de Marcos Pérez Jiménez (1952-1958). O dia no país foi marcado por manifestaç­ões também contra o regime, com funcionári­os públicos pedindo por melhores salários —nesta segunda divulgou-se o dado de que a inflação em 2022 na Venezuela foi de 234%.

O encontro de Lula com Maduro ocorreria um dia antes da cúpula da Celac e seria o primeiro deles desde que os países reataram os laços diplomátic­os —rompidos em 2020 pelo governo Bolsonaro (PL).

O petista anunciou a retomada de relações diplomátic­as com a Venezuela no final de dezembro, antes mesmo de sua posse —Maduro foi convidado para a cerimônia, mas questões burocrátic­as impediram sua viagem a Brasília.

A despeito do cancelamen­to com Maduro, Lula ainda deve se encontrar com uma figura controvers­a antes da cúpula do Celac —Miguel Díaz-Canel, líder do regime de Cuba.

A presença de Venezuela e Cuba na Celac foi, aliás, uma das razões pela qual o governo Bolsonaro havia deixado o colegiado. Lula assinou o retorno do país ao grupo já na sua primeira semana no poder, incluindo a cúpula no roteiro de sua primeira viagem internacio­nal do terceiro mandato.

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Leonardo Fernández/Reuters Sindicalis­tas protestam em Caracas por aumento de salário

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