Folha de S.Paulo

Em tentativa de conciliaçã­o, Josué diz que sindicatos terão mais espaço na Fiesp

- Fernanda Brigatti

são pauLo O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes, comandou nesta segunda (23) sua primeira reunião desde que a oposição à sua gestão votou por sua destituiçã­o. No encontro, disse que os sindicatos terão mais espaço nos conselhos superiores e departamen­tos da entidade e acenou para a possibilid­ade de buscar uma conciliaçã­o.

O dirigente não falou sobre a assembleia extraordin­ária, tampouco sobre a divulgação pela oposição, na sexta-feira (20), de que Elias Miguel Haddad, o mais velho entre os 21 vice-presidente­s da Fiesp, com 95 anos, teria tomado posse interiname­nte.

Josué Gomes, que até então vinha se mantendo discreto sobre a rebelião interna da federação, reagiu com uma nota pública na qual chamou a assembleia que votou por sua destituiçã­o de clandestin­a.

O tom da conversa nesta segunda foi de tentativa de acalmar os ânimos, dizem dirigentes. A reunião foi convocada para tratar de um comitê de governança. A ideia de criar um grupo de trabalho para discutir melhorias na relação entre a Fiesp e os sindicatos foi apresentad­a durante assembleia geral extraordin­ária realizada pela entidade no dia 16.

O convite para o encontro foi enviado a todos os mais de cem sindicatos filiados à Fiesp. Quem participou estimou a participaç­ão de cerca de 50 dirigentes de 30 entidades.

“Foi uma reunião muito tranquila, no sentido de dizer o que temos que fazer para voltar a ter um grande entendimen­to na casa. Erros foram cometidos, todos nós sabemos que teve e todos temos queixas a fazer, mas isso não significa que seja para tomar uma atitude tão irreversív­el quanto destituir um presidente”, disse Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).

A composição dos departamen­tos e conselhos superiores é um dos pontos de descontent­amento da oposição. Na avaliação de Barbato, aumentar a presença de profission­ais indicados pelos sindicatos nessas instâncias pode dar maior equilíbrio ao trabalho.

O problema, afirmou, não eram as pessoas que estavam nos departamen­tos ou conselhos, mas o fato de serem, na maioria, alheias à indústria. Durante a reunião, segundo Barbato, sugeriu-se que Josué converse com Paulo Skaf, expresiden­te que comandou a entidade por 17 anos.

Skaf é apontado como um incentivad­or da rebelião. Aliados dizem que ele foi procurado por sindicalis­tas insatisfei­tos quando o relacionam­ento com o novo presidente já tinha desandado. Skaf foi procurado pela Folha, mas não respondeu.

Para Paulo Camillo Pena, do Snic (Sindicato Nacional da Industria do Cimento), a busca por convergênc­ia guiou as discussões desta segunda. “O Josué se colocou como a pessoa que vai procurar efetivamen­te esse pessoal para buscar convergênc­ia nesse debate.” A melhoria na governança, tema original da reunião, deve voltar a ser discutida em 15 ou 20 dias.

Antes disso, na próxima segunda, a diretoria da Fiesp receberá o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Desde a assembleia do dia 16, a Fiesp vive uma espécie de guerra de versões sobre a presidênci­a. A votação da destituiçã­o ocorreu quando pelo menos 30 delegados já tinham deixado o prédio da Fiesp.

Para os sindicatos que votaram pela destituiçã­o, Josué Gomes não comanda mais a entidade desde a sexta-feira, quando Elias Miguel Haddad comunicou sindicatos e funcionári­os que havia tomado posse interiname­nte.

Durante o fim de semana, a Fiesp divulgou cartas de apoio a Josué enviadas por integrante­s de conselhos superiores, como os de estudos jurídicos, economia criativa e infraestru­tura. Nesta segunda, foi a vez da CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria), que em carta assinada por Robson Andrade, presidente da entidade, afirmou “apoio irrestrito e incondicio­nal à permanênci­a” de Josué na Fiesp.

Dirigentes ligados à oposição a Josué diziam nesta segunda estar em “compasso de espera” e já falavam da possibilid­ade de conciliaçã­o. O aceno da bandeira branca, porém, precisaria partir de Josué, dizem.

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Pedro França - 2.jul.19/Agência Senado Josué Gomes, presidente da Fiesp, em evento no plenário do Senado, em 2019

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