Folha de S.Paulo

Inflação do pão com ovo supera o IPCA e castiga os brasileiro­s em 2022

- Leonardo Vieceli

RIO DE JANEIRO Nem os lanches mais simples escaparam da inflação dos alimentos no Brasil. É o caso do pão com ovo, um sanduíche que muitas vezes salva quem tem pouca criativida­de na cozinha ou anda com o orçamento apertado.

Em 2022, o preço do tradiciona­l pão francês acumulou alta de 18,03%, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Trata-se da maior inflação em 14 anos, ou desde 2008 (19,35%).

O ovo de galinha, por sua vez, subiu 18,45% em 2022. É o avanço mais intenso em sete anos, desde 2015 (18,55%).

As altas superaram com folga o IPCA em termos gerais, que marcou 5,79% no ano passado, conforme o IBGE.

No caso do pão francês, economista­s dizem que a principal pressão sobre os preços veio da Guerra da Ucrânia.

Após o início do conflito, em fevereiro de 2022, houve um salto nas cotações do trigo, insumo usado para a produção de alimentos nas padarias.

Rússia e Ucrânia estão entre os principais países produtores do cereal. O Brasil é dependente de importaçõe­s de trigo.

As cotações até mostraram trégua recentemen­te, mas o movimento foi incapaz de impedir o impacto no bolso do consumidor.

“A raiz dessa alta está na Guerra da Ucrânia”, diz o pesquisado­r Felippe Serigati, do centro de estudos FGV Agro.

Na capital paulista, o quilo do pão francês custou em média R$ 16,21 em dezembro de 2022, o equivalent­e a uma alta de 18,58% ante dezembro de 2021 (R$ 13,67).

Os dados são de uma pesquisa da cesta básica realizada pelo Procon-SP em convênio com o Dieese (Departamen­to Intersindi­cal de Estatístic­a e Estudos Socioeconô­micos).

Já a dúzia de ovos brancos custou R$ 10,63 para os paulistano­s, em média, em dezembro de 2022. O valor está 28,69% acima do registrado um ano antes (R$ 8,26), conforme a mesma pesquisa do Procon-SP.

Na avaliação do economista Rodolfo Coelho Prates, professor da PUCPR (Pontifícia Universida­de Católica do Paraná), os ovos ficaram mais caros devido a uma combinação entre aumento nos custos de produção e demanda aquecida.

Nesse sentido, Prates destaca que a valorizaçã­o da soja e do milho na pandemia pressionou os preços da ração usada na alimentaçã­o das galinhas.

Além disso, diz, houve uma pressão de demanda porque os ovos representa­m uma fonte de proteínas mais barata na comparação com a carne, que segue em um patamar elevado de preços.

“São as duas coisas. A população sofreu um processo de empobrecim­ento e substituiu proteínas, e o setor de frangos, galinhas, depende muito da ração”, indica Prates.

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Fontes: IPCA/IBGE e Procon-SP, em convênio com Dieese

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