Folha de S.Paulo

Conab espera 55 milhões de sacas de café em 2023, mas mercado aposta em mais

- Mauro Zafalon mauro.zafalon@uol.com.br

A Conab (Companhia Nacional de Abastecime­nto) fez a primeira estimativa de produção de café da safra 2023, ao prever uma colheita de 54,9 milhões de sacas.

Apesar da evolução da produção deste ano em relação à de 2022, quando a safra ficou em 50,9 milhões de sacas, os operadores de mercado não assimilara­m muito bem esse número. Esperavam mais.

Já do lado dos produtores, o número da Conab foi recebido como de bom tamanho.

Raquel Miranda, técnica da Comissão Nacional do Café da CNA (Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil), afirma que área maior e produtivid­ade melhor vão permitir essa evolução positiva da safra atual, elevando a produção de café arábica para 37,4 milhões de sacas neste ano.

Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, aponta que o mercado viu problemas exatamente na estimativa de produção de café arábica. Acreditam em um número superior ao da Conab.

Um dos sinais é que o mercado de Nova York não reagiu aos números da Conab. As oscilações de preços ocorreram mais por motivos ligados ao mercado financeiro do que pelos números da safra brasileira.

Barabach, que ainda está avaliando o tamanho da safra brasileira e, na sequência deverá divulgar os números esperados pela Safras & Mercado, diz que, sem entrar em um juízo de valor dos números já postos no mercado, a safra de arábica deverá ser superior à divulgada pela Conab.

Esperando uma evolução maior na produção de arábica neste ano, alguns corretores veem a safra total brasileira de 2023 com números superiores a 60 milhões de sacas. A produção de café conilon foi estimada em 17,5 milhões de sacas pela Conab.

A técnica da CNA e o analista da Safras afirmam que as condições climáticas no final do ano passado foram favoráveis à florada, mas a concretiza­ção do volume a ser produzido e a qualidade do produto ainda dependem do clima nos próximos meses.

Para Miranda, o Brasil evoluiu muito em produtivid­ade nos anos recentes, atingindo média nacional de 29 sacas por hectare, o que é uma vantagem em relação aos concorrent­es internacio­nais.

Ela acredita em uma manutenção dos preços nos próximos meses. Não há perspectiv­as de encolhimen­to da demanda de café; a abertura da China dá suporte à economia mundial; a balança do produto não está folgada; e o dólar está forte, o que sugere preços neste patamar atual pelo menos até maio.

A analista prevê, no entanto, uma safra melhor em 2024, apesar das muitas barreiras, tanto de clima como de mercado, que precisarão ser vencidas até lá. Com isso, o produtor tem de ter cautela e buscar mecanismos que garantam a renda.

O setor de café vem passando por um período de grandes números. A saca, que estava em média a R$ 640 para o arábica em janeiro de 2021, atingiu R$ 1.483 no mesmo mês de 2022 e se mantém em R$ 989 neste ano.

Os dados se referem à média mensal de preços e são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Considerad­a a média anual, o valor da saca do arábica esteve em R$ 1.261 em 2022, acima dos R$ 962 de 2021. Em dólares, a saca passou de uma média anual de US$ 178, em 2021, para US$ 245, em 2022.

Com a aceleração dos preços internos, reflexo das altas por causa da menor oferta e da continuida­de da demanda pela bebida, as exportaçõe­s brasileira­s do setor somaram US$ 9,2 bilhões em 2022, bem acima dos US$ 6,4 bilhões obtidos em 2021, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior). Já o volume colocado no mercado externo pelo Brasil recuou 7% no ano passado.

Os preços médios obtidos pelos exportador­es brasileiro­s em 2022 foram 57% acima dos de 2021, em dólares. Os melhores preços do café ocorreram, no entanto, no início de 2022, e poucos agricultor­es tinham o produto para comerciali­zar, segundo Raquel Miranda. Naquele período, os custos dos insumos dispararam.

Internamen­te, a alta dos preços refletiu no Valor Bruto de Produção do café, que, no ano passado, subiu para R$ 56 bilhões, 25% a mais do que em 2021. Neste ano, no entanto, com a desacelera­ção dos preços, o valor da produção deverá recuar 16%, para R$ 47 bilhões, segundo as primeiras estimativa­s do Ministério da Agricultur­a.

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