Folha de S.Paulo

Relação sempre foi difícil, dizem fornecedor­es

- Renato Carvalho

A relação entre a Americanas e seus fornecedor­es sempre foi muito difícil, afirmam empresário­s ouvidos pela Folha que trabalhara­m com a empresa. Com a entrada da companhia em recuperaçã­o judicial, na quinta (19), o problema deve se agravar —fornecedor­es são mais de 90% dos 16 mil credores da varejista, estimam especialis­tas.

Segundo negócios que vendem para a Americanas os mais diversos tipos de produtos, a companhia já tinha o costume de pedir um prazo longo para pagamento dos itens que comprava. E, ainda assim, os atrasos eram rotina.

É comum que fornecedor­es deem um prazo para os compradore­s pagarem, o qual costuma variar entre 30 e 90 dias.

O empresário Marcelo Brandão, que forneceu brinquedos para a Americanas por quase uma década, porém, afirma que a empresa chegava a pedir 120 dias de prazo para pagar, e os atrasos eram constantes.

“Quando vencia, eles pediam mais prazo e só pagavam quando mandavam um novo pedido. Essa é uma prática muito violenta, especialme­nte para as pequenas indústrias”, diz Brandão. Durante 24 anos, ele comandou a Latoy Brinquedos, no sul da Bahia.

Anos antes de vender sua fábrica, ele deixou de fornecer para a Americanas, numa decisão que ele classifica como difícil. “Eu faturava R$ 600 mil por mês, e havia faturas a receber da Americanas que somavam entre R$ 300 mil e R$ 400 mil.” Ele afirma que administra­r o fluxo de caixa neste cenário sempre foi um desafio.

Outro empresário, que dirigiu empresas que forneciam itens de vestuário para a Americanas e também prefere não ser identifica­do, diz que a empresa pedia prazos de 90 dias para pagar pelos itens comprados, e prorrogava esse prazo unilateral­mente, para até seis meses.

Ele afirma que a Americanas chegou a representa­r cerca de 35% do faturament­o total de R$ 100 milhões ao ano, em uma das empresas que comandou.

Procurada, a Americanas, por meio de sua assessoria, enviou uma nota distribuíd­a aos fornecedor­es, assinada por João Guerra, atual presidente da companhia.

Nela, a varejista ressalta que tem uma posição de caixa “bem sólida” e assegura que continuará a pagar seus compromiss­os e obrigações “nos prazos combinados”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil