Folha de S.Paulo

Comerciant­es de São Paulo dormem em lojas com medo de saques

- Francisco Lima Neto

sÃo paulo Ao menos 12 comerciant­es relataram que passaram a noite de domingo (22) e a madrugada desta segunda-feira (23) dentro das lojas para evitar saques na região da cracolândi­a. Nas últimas horas do fim de semana, usuários de drogas bloquearam um trecho da rua dos Gusmões, atearam fogo em lixo e fizeram barreiras.

O ponto que havia sido interditad­o fica no trecho da rua dos Gusmões, entre a alameda Barão de Limeira e a rua Guaianases. Também havia um bloqueio na avenida São João, no trecho próximo ao largo do Arouche, e veículos precisam voltar de ré.

Por volta das 21h de domingo, a GCM (Guarda Civil Metropolit­ana) soltou bombas na rua Vitória para dispersar usuários de drogas que permanecia­m no local. Com isso, dependente­s e moradores de rua passaram a correr e montar barricadas.

Após a saída dos agentes, os frequentad­ores voltaram à região e passaram a forçar as portas de algumas lojas, principalm­ente nas ruas Vitória e Gusmões.

A região tem concentraç­ão de lojas de peças e também de motos e bicicletas.

Os proprietár­ios, por meio de imagens de segurança e por grupos de conversas, viram as tentativas de invasões e correram para as lojas para evitar serem saqueados.

“Passei a noite em claro”, relata o comerciant­e Paulo Renato Gomes. “Eu vi pela câmera que tinham dois tentando arrombar as portas da minha bicicletar­ia aqui na rua Vitória. Eu saí correndo de Santana [zona norte] e vim para cá. Pedi ajuda para uma viatura da PM que estava na rua Rio Branco, esquina com Duque de Caxias, e o policial mandou eu me virar. Consegui chegar, coloquei um colchão e passei a noite dentro da loja para evitar que eles invadissem. Fiquei com a luz acesa para saberem que tinha gente.”

Ele conta que a família tem o comércio no local há 54 anos e nunca passou por algo parecido. “A gente se sente jogado, abandonado, sem auxílio de ninguém. Virou essa situação desde fevereiro do ano passado quando mexeram na praça Santa Isabel [onde os usuários se concentrav­am anteriorme­nte], mas desde de novembro está esse inferno, piorou mais”, diz.

Segundo o comerciant­e, antes da chegada da cracolândi­a ele atendia, em média, 120 clientes por dia. Atualmente, a média é 12.

Outra loja, de motos, na esquina das ruas Vitória e Guaianases, também sofreu tentativa de invasão após a saída da GCM durante a noite. O comerciant­e, que preferiu não se identifica­r, conta que saiu da zona sul e correu para o local. Ele chegou às 22h45 e passou a noite lá. De acordo com o lojista, pelo menos 12 comerciant­es da região passaram a noite dentro das lojas.

Uma moradora da rua Vitória, que também pediu para não ter o nome divulgado, diz que ao longo do domingo os usuários não estavam nas imediações, mas chegaram aos montes depois das 18h.

Ela afirma que conversou com eles e ouviu que a GCM os teria expulsado da rua dos Andradas, da rua do Triunfo e da Conselheir­o Nébias, por isso se concentrar­am na rua Vitória. A moradora afirma ter encontrado 12 viaturas da GCM na Conselheir­o Nébias e que reclamou com os agentes, mas que nada foi feito.

A reportagem ficou cerca de meia hora na esquina da ruas Guaianases e Vitória, na manhã desta segunda. O trecho estava fechado pelo fluxo de usuários. Passaram diversas viaturas da GCM, da PM e da Polícia Civil, mas não houve nenhum tipo de intervençã­o.

A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Executiva de Projetos Estratégic­os, informou que na noite do domingo, dependente­s químicos fecharam a rua dos Gusmões e que a GCM se dirigiu ao local para a desobstruç­ão da via. Mas, ao perceberem a presença da Guarda, os usuários atearam fogo em objetos no local e passaram a hostilizar os agentes, arremessan­do objetos e pedras.

Ainda segundo a prefeitura, a situação foi rapidament­e controlada pelo efetivo da GCM e a via foi liberada.

A prefeitura afirmou ainda que a GCM realiza o patrulhame­nto comunitári­o e preventivo na região da Nova Luz, 24 horas por dia, por meio de rondas periódicas.

Em nota, a Polícia Militar respondeu que na cracolândi­a, no domingo, ocorreram pequenos focos de incêndio, mas que foram desobstruí­dos pela GCM, sem ação direta da PM. Ressaltou que hoje o local permanece com fluxo de veículos e pessoas normal, sendo devidament­e patrulhado pelos policiais do 7º Batalhão de Polícia Militar.

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