Folha de S.Paulo

SP quer câmeras para reconhecim­ento facial na cracolândi­a

Proposta da prefeitura e do governo do estado que será anunciada nesta terça também inclui Justiça terapêutic­a

- Mariana Zylberkan e Paulo Eduardo Dias

sÃo paulo Plano do governo estadual em parceria com a prefeitura para a região da cracolândi­a, no centro de São Paulo, quer instalar câmeras com reconhecim­ento facial e instituir a Justiça terapêutic­a.

O governador Tarcísio de Freitas (Republican­os) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) definiram detalhes sobre o projeto em almoço realizado nesta segunda-feira (23) no Palácio dos Bandeirant­es. O projeto completo será anunciado nesta terça-feira (24).

A Justiça terapêutic­a é um mecanismo previsto na Lei Antidrogas nacional. O usuário abordado consumindo drogas na rua terá a opção de receber tratamento médico e, caso se negue, irá responder pela infração penal.

Os boletins de ocorrência, nesses casos, serão simplifica­dos e um juiz especial será responsáve­l pelos encaminham­entos de usuários abordados a tratamento­s de saúde.

A nova dinâmica irá substituir o trabalho de fichar os dependente­s químicos flagrados consumindo crack na rua antes de encaminhá-los a unidades de saúde, que vinha sendo feito pelo 77º DP (Santa Cecília) desde setembro e foi interrompi­do no fim do ano passado. Esse método de abordagem foi criticado pelo novo delegado seccional do centro.

Em relação ao trabalho da Polícia Civil, a ordem é focar a prisão de grandes traficante­s em vez dos chamados lagartos, dependente­s químicos que vendem menores quantidade de drogas no fluxo de usuários como uma forma de manter o vício.

A atual gestão tem criticado a operação Caronte, deflagrada em junho de 2021 pelo então delegado da Seccional Centro, Roberto Oliveira. A interpreta­ção da atual cúpula da Secretaria de Segurança Pública é de que as ações recorrente­s em meio ao fluxo de dependente­s químicos espalharam a cracolândi­a pelo centro, o que dificultou o trabalho da polícia e das equipes de saúde e de assistênci­a social.

As câmeras com reconhecim­ento facial vão integrar um sistema de vigilância com cerca de 300 equipament­os a ser implantado na região da cracolândi­a, conforme a Folha antecipou.

“A ideia é elaborar uma sala de inteligênc­ia em que as equipes acompanhem tudo em tempo real”, afirmou o delegado da 1ª Seccional Centro, Jair Ortiz, em entrevista na sexta-feira (20).

Na madrugada desta segunda, frequentad­ores da cracolândi­a bloquearam um trecho da rua dos Gusmões. Agentes da Guarda Civil Metropolit­ana atuaram para dispersar pessoas no local, que atearam fogo em lixo e fizeram barreiras. Por volta da meianoite, no entanto, os usuários já estavam de volta.

Procuradas para posicionam­ento sobre o caso, a Polícia Militar, a GCM e a Prefeitura de São Paulo não respondera­m.

A cracolândi­a tem sido tratada como prioridade no planejamen­to dos primeiros 100 dias do governo Tarcísio, que nomeou o vice-governador, Felicio Ramuth (PSD), como responsáve­l por coordenar as ações na região e pela interlocuç­ão entre a gestão municipal.

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Gabriel Cabral/Folhapress Movimentaç­ão de usuários de droga entre as ruas Guaianases e Conselheir­o Nébias, em São Paulo

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