EUA indicam bariátrica e remédio para crianças obesas
Pediatras querem ações mais rápidas, mas não orientam intervenções agressivas como primeiro passo
THE NEW YORK TIMEs A Academia Americana de Pediatria divulgou na semana passada novas orientações sobre como avaliar e tratar crianças com sobrepeso ou obesidade. Um documento de 73 páginas diz que a obesidade não deve mais ser estigmatizada como o resultado de escolhas pessoais, mas compreendida como uma doença complexa, com implicações para a saúde em curto e longo prazo.
Com base nesse raciocínio, as diretrizes —a primeira atualização do grupo em 15 anos — dizem que não há evidências em defesa da demora para tratar crianças com obesidade na esperança de que elas superem o problema.
Em vez da abordagem gradual recomendada no passado, pediatras e médicos de atenção primária devem adotar uma postura mais proativa, oferecendo encaminhamentos imediatos para programas intensivos de comportamento de saúde e estilo de vida, além de prescrever medicamentos para perda de peso ou aconselhar cirurgia em alguns casos.
“Mesmo em idades jovens, a obesidade pode ocorrer e muitas vezes não melhora sem tratamento”, diz Sarah Hampl, pediatra do hospital Children’s Mercy em Kansas City, no Missouri, e principal autora das diretrizes.
Aproximadamente 1 em cada 5 crianças nos EUA entre 2 e 19 anos é afetada pela obesidade, o que significa que elas têm um IMC (índice de massa corporal), igual ou superior ao ao recomendado para sua idade e sexo com base nos gráficos de crescimento dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças do governo americano. A obesidade infantil também parece ter aumentado durante a pandemia de Covid-19.
Embora evidências crescentes sugiram que as pessoas podem ser saudáveis com qualquer peso se fizerem atividade física suficiente, a obesidade em crianças traz riscos imediatos e de longo prazo.
“Estamos vendo cada vez mais crianças diagnosticadas com diabetes tipo 2, colesterol alto e pressão alta, e a obesidade é um forte fator de risco para essas condições, tanto na infância quanto na adolescência e, posteriormente, na idade adulta”, diz Callie Brown, professoraassistente de pediatria na Escola de Medicina da Universidade Wake Forest.
Os programas, que visam fornecer atendimento sem julgamento, geralmente são baseados em centros médicos acadêmicos, hospitais comunitários ou clínicas. Eles reúnem uma gama de especialistas, incluindo nutricionistas, fisiologistas do exercício e assistentes sociais, que ensinam educação física, organizam demonstrações de culinária e outros programas. A AAP recomenda que as crianças e suas famílias recebam pelo menos 26 horas de aconselhamento presencial ao longo de três meses ou mais.
Os pediatras devem conversar com as famílias sobre medicamentos para perda de peso, além de intervenções comportamentais para crianças a partir dos 12 anos, enquanto adolescentes com obesidade grave devem ser avaliados para uma possível cirurgia para perda de peso.
As recomendações sobre medicamentos e cirurgias geraram muitas discussões nas redes sociais e um certo grau de controvérsia. Alguns especialistas em saúde do adolescente alertaram que tais intervenções podem ser prejudiciais, observando que o uso de medicamentos antiobesidade em crianças ainda é relativamente novo, enquanto a cirurgia requer um compromisso de longo prazo com requisitos nutricionais rigorosos.
“A cirurgia bariátrica é uma boa intervenção para alguns pacientes —os que têm complicações médicas como diabetes tipo 2 ou doença hepática gordurosa não alcoólica, por exemplo”, pontua Katy Miller, diretora médica de medicina para adolescentes do Children’s Minnesota. “Mas é uma cirurgia muito séria que traz impactos profundos para o resto da vida do paciente.”
Mona Amin, pediatra da Flórida, acredita que parte do “barulho” em torno de medicamentos e cirurgias decorre de um mal-entendido de que a AAP está promovendo essas intervenções agressivas como primeiro passo.
“Na verdade, quando você lê tudo, eles estão tentando criar um plano multidisciplinar para os médicos, para que tenham opções”, diz Amin. “Eles não estão defendendo cirurgia ou medicação como primeira opção.”
Em seus esforços para ser mais proativa e holística no tratamento da obesidade infantil, a AAP reconheceu o papel que os pediatras e outros prestadores de cuidados primários têm desempenhado na promoção do viés de peso.
O grupo insta os pediatras a examinar e abordar suas próprias atitudes em relação às crianças com obesidade. Ele recomenda que os médicos usem a linguagem da “pessoa primeiro” (isto é, dizer “uma criança com obesidade” em vez de uma “criança obesa”) e que reconheçam a complexidade da obesidade.
“Os médicos não estão imunes ao viés social de peso que prevalece em nossa cultura”, aponta Rebecca Puhl, professora e vice-diretora do Centro Rudd para Políticas de Alimentação e Saúde da Universidade de Connecticut. “O viés de peso raramente, ou nunca, é abordado na faculdade de medicina.”
“Mesmo em idades jovens, a obesidade pode ocorrer e muitas vezes não melhora sem tratamento
Sarah Hampl
pediatra e principal autora das novas diretrizes