Folha de S.Paulo

China diz querer prioridade em viagem de Mauro Vieira à Ásia

- Ricardo Della Coletta

BRASÍLIA A China enviou recado ao Itamaraty e disse esperar que o chanceler Mauro Vieira priorize Pequim em viagem à Ásia marcada para março.

Em meados de janeiro, o embaixador do Brasil em Pequim, Marcos Galvão, teve uma reunião no Ministério das Relações Exteriores local. Nela, o diplomata encarregad­o de temas relacionad­os ao Brasil disse a Galvão ter sido informado que Vieira planeja uma viagem à Índia em março, numa reunião de ministros do G20, e que a primeira passagem do chanceler pela China poderia ocorrer no mesmo contexto.

Em seguida, segundo relatos feitos à Folha, o diplomata disse considerar importante que Vieira passe primeiro por Pequim —e só depois vá à Índia.

Membros do governo que acompanham o tema disseram, sob condição de anonimato, entender que a mensagem foi uma sinalizaçã­o de que a China espera um gesto simbólico do Itamaraty no sentido de mostrar que Pequim éo parceiro prioritári­o do Brasil no continente asiático.

O tema é especialme­nte sensível, uma vez que China e Índia, ainda que integrem o Brics (bloco com Brasil, Rússia e África do Sul), são rivais regionais e têm um histórico de escaramuça­s em pontos da fronteira. Déli ainda faz parte de uma aliança para se contrapor à influência de Pequim no Indo-Pacífico, o Quad, ao lado de EUA, Japão e Austrália.

A rivalidade se dá também no campo diplomátic­o. Em 2020, em uma cúpula do Brics, os chineses agiram para que fosse suprimido de um documento oficial trecho sobre o apoio dado por Pequim e Moscou às aspirações dos demais membros para desempenha­r “papéis mais relevantes na ONU” —referência ao pleito de Brasil e Índia pela ampliação do Conselho de Segurança da ONU, do qual China e Rússia são membros permanente­s.

Na reunião, o gigante asiático se aproveitou da falta de interesse na reforma do colegiado por parte do então presidente Jair Bolsonaro (PL) para reforçar sua posição, num recado principalm­ente contra a possibilid­ade de a Índia ganhar um assento permanente.

Procurado, o Itamaraty disse que há uma visita prevista do chanceler Mauro Vieira à Índia nos dias 1º e 2 de março, por ocasião de reunião ministeria­l do G20. A eventual passagem pela China depende de questões de agenda de ambos os lados e ainda está em avaliação.

Segundo relataram à Folha pessoas com conhecimen­to do assunto, Galvão também tratou, na reunião na chancelari­a chinesa, da ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Pequim. Ele ouviu que o regime de Xi Jinping espera receber o petista o quanto antes e que a visita é considerad­a prioritári­a pelo país.

No último dia 18, Lula disse que pretende viajar à China em março. O presidente cumpre nesta semana sua primeira agenda internacio­nal, com passagens pela Argentina —onde se encontrou com o homólogo Alberto Fernández e participou da cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos)— e pelo Uruguai. Em 10 de fevereiro o petista embarca para Washington (EUA), a convite do presidente Joe Biden.

A retoma dadas relações com a China, principal parceiro comercial do Brasil, é um dos pontos prioritári­os da política externa agora comandada por Vieira. O maior desafio é encontrar um ponto de equilíbrio em meio ao atual conflito geopolític­o protagoniz­ado por Pequim e Washington.

Em entrevista à Folha ,o chanceler brasileiro disse que o país pretendes e guiar pelo interesse nacional. Não vamos deixar deter uma relação estratégic­a importantí­ssima coma China por qualquer outro motivo ”, disse.

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