Folha de S.Paulo

Direção bolsonaris­ta em Itaipu antecipa nomeação às vésperas de o PT assumir

Vice-almirante firma ou altera 31 convênios ou acordos no fim de 2022, após vitória de Lula

- Alexa Salomão

O diretor-geral de Itaipu da gestão bolsonaris­ta, vice-almirante Anatalício Risden Junior, tem sido ativo no encerramen­to de sua gestão, na avaliação de quem acompanha a estatal. No cargo à espera do substituto, que será escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele tem assinado novas parcerias e alterado o escopo de alguns contratos já vigentes, ampliando prazos ou valores.

Também antecipou a nomeação de um cargo estratégic­o, cujo mandato terá início em março.

O protagonis­mo de Risden chama a atenção porque a escolha de diretores e conselheir­os de Itaipu é uma prerrogati­va do presidente da República. A saída de toda cúpula do lado brasileiro é uma questão de tempo. Desde 1º de janeiro, pode ocorrer a qualquer momento.

Há quem argumente que o período eleitoral afetou a liberação de recursos, e Risden precisa concluir parcerias já acertadas com vários municípios. No entanto, a avaliação de outros é que ele deveria ser mais comedido, pois está formando uma herança de última hora para os próximos gestores, dentro de uma conta que não para de crescer e é paga pelos consumidor­es de energia do Brasil.

Essas parcerias compõem os chamados programas de responsabi­lidade socioambie­ntal de Itaipu. Boa parte financia obras. Um levantamen­to realizado pela consultori­a PSR, uma das mais conceituad­as do Brasil na área de energia, identifico­u que esses gastos passaram de US$ 88,5 milhões (R$ 459,5 milhões) em 2013 para US$ 316,1 milhões (R$ 1,6 bilhão) em 2022.

Nos meses de novembro e dezembro, quando já era certa a mudança no comando de Itaipu, pois Lula havia vencido a eleição, a gestão de Risden firmou ou alterou 31 convênios ou acordos, segundo relatórios publicados pela empresa em sua página na internet.

A listagem de janeiro ainda não está disponível no site. No entanto, segundo estimativa repassada à Folha, as parcerias continuam sendo feitas no primeiro mês de 2023.

Novos convênios e acordos oficializa­dos nos dois últimos meses de 2022, somados aos realizados nas duas primeiras semanas de janeiro, totalizam o empenho futuro de mais de R$ 40 milhões.

É preciso lembrar que cada valor gasto no Brasil é igualmente liberado no Paraguai, para garantir a paridade nos benefícios.

O apoio de Itaipu a projetos no Paraná tem forte apelo político regional, e as iniciativa­s no fim do mandato da atual diretoria entram para a cota política dos apoiadores do governo anterior. No Paraná, Jair Bolsonaro (PL) ganhou no segundo turno da eleição, com 62% dos votos válidos.

Oficialmen­te, os projetos de Itaipu no lado brasileiro devem ser focados na área de influência da usina, basicament­e, o oeste do Paraná. Esse limite geográfico, no entanto, foi sendo ampliado em anos recentes.

Itaipu já liberou mais de R$ 7 milhões para conservaçã­o, restauraçã­o e gestão do complexo arquitetôn­ico dos acervos do Ministério das Relações Exteriores do Rio, a 1.500 quilômetro­s da usina. O argumento é que o tratado de Itaipu foi assinado no palácio.

Na lista dessas recentes parcerias firmadas na gestão do vice-almirante está um convênio, com data de 30 de dezembro, firmado com a secretaria da Comissão Interminis­terial para os Recursos do Mar, no valor de R$ 6,8 milhões, para financiar um projeto de segurança e eficiência energética em ilhas oceânicas brasileira­s. A área de influência de Itaipu não está junto ao oceano, mas no interior do Brasil.

O ato que mais surpreende­u a equipe em Itaipu foi a antecipaçã­o de uma nomeação.

O atual superinten­dente de Operação vai se aposentar em março, mas o substituto já foi ratificado. Em documento de 5 de janeiro, foi determinad­o que Rodrigo Gonçalves Pimenta vai assumir o cargo em 2 de março.

O superinten­dente de Operação, que é responsáve­l pela produção de energia, responde diretament­e ao diretor técnico da área de produção e segurança da usina. É praticamen­te um cargo de confiança. Pela lógica, o novo superinten­dente deve ser escolhido por esse futuro diretor, que ainda será nomeado por Lula.

Pimenta é um funcionári­o de carreira e até seria natural estar entre os cotados, mas a simples indicação precoce causa desconfort­o. O próximo diretor técnico, já no início de sua gestão, vai sofrer o constrangi­mento de fazer uma troca se assim julgar necessário.

Procurada pela Folha ,aassessori­a de Itaipu respondeu que a empresa tem mantido o seu planejamen­to.

“A Itaipu Binacional, por meio da atuação de sua Diretoria-Executiva, prossegue normalment­e com suas atividades e, de acordo com seu planejamen­to empresaria­l, tem fortalecid­o sua governança, principalm­ente na área de compliance, além de atuar alinhada à sua missão institucio­nal de gerar “energia elétrica de qualidade com responsabi­lidade social e ambiental, contribuin­do com o desenvolvi­mento sustentáve­l no Brasil e no Paraguai’ “, destacou o texto.

Passado quase um mês, o governo Lula ainda não indicou quem vai assumir os diferentes postos de comando de Itaipu. Existe a perspectiv­a de que participem da escolha a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que é do Paraná e já atuou na empresa, e a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, que trabalhou por quase 20 anos em Itaipu.

Além do posto de diretor-geral, o novo governo pode indicar sete conselheir­os e cincos diretores.

No conselho, há postos com destino certo. Ao menos uma das vagas fica com o Ministério de Relações Exteriores e deve ser ocupada pelo embaixador Mauro Vieira. Uma outra cadeira vai para o Ministério de Minas e Energia e tende a ficar com o titular da pasta, Alexandre Silveira.

Quanto mais o tempo passa, mais cresce a lista de cotados para assumir a diretoria-geral, o posto mais disputado.

Já foram citados nas bolsas de aposta o deputado federal Enio Verri (PT-PR), o deputado estadual Arilson Chiorato, que integrou o grupo de infraestru­tura de transição de governo, o ex-ministro Paulo Bernardo e o empresário Jorge Samek, que comandou Itaipu nos governos Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer, e conhece Janja.

O nome do ex-governador do Paraná Roberto Requião vai e vem para ocupar um posto na estatal. Ele já declarou publicamen­te que se sentiu ofendido quando foi sondado para ser um dos conselheir­os. Requião estaria pleiteando uma diretoria.

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Rubens Fraulini - 14.jan.23/Itaipu Binacional/Divulgação Comportas abertas de vertedouro de Itaipu Binacional, neste mês

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