Folha de S.Paulo

Arrecadaçã­o federal cresce 8,2% e registra recorde em 2022, apesar de desoneraçõ­es

- Idiana Tomazelli

A arrecadaçã­o de tributos federais totalizou R$ 2,2 trilhões em 2022, uma alta real (acima da inflação) de 8,18%. O patamar é recorde na série histórica, iniciada em 1995, informou a Receita Federal nesta terça-feira (24).

No ano, houve um cresciment­o de tributos recolhidos pelas empresas, na esteira do avanço no PIB brasileiro, estimado em 3% em 2022. Companhias que atuam em segmentos ligados a commoditie­s, combustíve­is e alimentos foram ainda mais beneficiad­as pela alta de preços, que impulsiono­u sua lucrativid­ade.

Também houve aumento nas receitas com o Imposto de Renda sobre o capital, em razão do desempenho positivo de fundos e títulos de renda fixa na esteira do aumento da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,75%. Elas somaram R$ 97,1 bilhões, 67,2% a mais do que em 2021.

A arrecadaçã­o do Simples Nacional cresceu 12,54%, contribuin­do para o recorde. Já as receitas previdenci­árias subiram 5,98%, impulsiona­das pelo cresciment­o da massa salarial.

O recorde de arrecadaçã­o ocorreu mesmo com uma renúncia de R$ 43 bilhões em desoneraçõ­es sobre combustíve­is e cortes no IPI (Imposto sobre Produtos Industrial­izados), medidas adotadas no último ano de gestão de Jair Bolsonaro (PL).

Segundo o fisco, a redução de alíquotas do IPI tirou R$ 17,2 bilhões das receitas —metade desse valor seria repassada a estados e municípios. Outros R$ 25,85 bilhões foram renunciado­s devido ao corte nos tributos federais sobre gasolina, diesel e etanol.

A decisão do governo anterior de adotar uma série de renúncias tem sido criticada pela equipe do ministro Fernando Haddad (Fazenda), que lançou um pacote de medidas focado em recuperaçã­o de receitas na tentativa de reduzir o rombo nas contas.

Uma das propostas é justamente reverter a desoneraçã­o sobre a gasolina e o etanol a partir de março, embora o próprio ministro tenha reconhecid­o que essa decisão ainda é incerta.

O pacote promete entregar uma melhora fiscal de R$ 242,7 bilhões nas contas públicas deste ano, o suficiente para reverter o déficit de R$ 231,55 bilhões projetado para 2023 e recolocar o país no azul. Mas Haddad, de forma preventiva, já admitiu que o efeito pode ficar abaixo do esperado. Ele tem citado um objetivo de déficit de até 1% do PIB, algo próximo a R$ 100 bilhões.

O chefe do Centro de Estudos Tributário­s e Aduaneiros da Receita, Claudemir Malaquias, evitou fazer comentário­s mais aprofundad­os sobre a tendência de arrecadaçã­o para 2023. Segundo ele, o fisco deve revisar as projeções a partir da nova grade de parâmetros, que deve ser divulgada no primeiro trimestre pela SPE (Secretaria de Política Econômica).

A estimativa de cresciment­o da economia é um fator importante para determinar a trajetória das receitas. O Orçamento de 2023 foi aprovado com uma projeção de alta de 2,5% do PIB neste ano. Analistas ouvidos pelo Banco Central no Boletim Focus, por sua vez, esperam um avanço mais tímido, de 0,47%.

“Não temos elementos que permitam fazer uma conclusão até o fim do ano, mas as projeções serão revistas”, disse Malaquias. “Faremos uma nova avaliação, que envolve uma análise criteriosa das bases econômicas de cada tributo.”

O técnico adiantou, porém, que o resultado preliminar da arrecadaçã­o de janeiro “está indo bem”.

Ainda segundo a Receita, as receitas do governo federal somaram R$ 210,2 bilhões só no mês de dezembro de 2022, um avanço de 2,47% em relação a igual mês de 2021, já descontado o efeito dos preços.

O dado mostra que, apesar do cresciment­o vigoroso no consolidad­o do ano, a alta da arrecadaçã­o perdeu força na reta final de 2022.

Em janeiro do ano passado, o ritmo de alta passava dos dois dígitos, com variação real de 18,3% ante igual mês de 2021. A partir de julho, esse percentual já ficou em apenas um dígito.

Malaquias disse que a mudança se deve a uma base de comparação mais elevada no segundo semestre de 2021. “A arrecadaçã­o não mostrou desacelera­ção. Teve uma taxa de cresciment­o menor em relação a 2021, mas a base já era crescente”, disse. “Em análise comparativ­a, estamos em trajetória de cresciment­o.”

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Fonte: Receita Federal

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