Folha de S.Paulo

Com alta de ICMS, medicament­o deve ter reajuste duplo em 2023

- Eduardo Cucolo

São Paulo O preço dos medicament­os deve subir duas vezes em 2023 em 15 estados que elevaram as alíquotas de ICMS ou os preços de referência para aplicação deste imposto.

A mudança na tributação local irá se somar ao reajuste anual de preços autorizado a partir de 1º de abril para todo o país.

No final de 2022, 12 estados elevaram as alíquotas de ICMS sobre diversos produtos, como forma de compensar o corte no imposto sobre combustíve­is e energia elétrica. Os medicament­os estão entre esses itens que terão aumento de carga tributária neste ano.

O novo ICMS entra em vigor em março em sete estados: Bahia, Piauí, Paraná, Pará, Sergipe, Amazonas e Roraima. A mudança vale a partir de 1º de abril em outros cinco: Acre, Alagoas, Maranhão, Rio Grande do Norte e Tocantins. As alíquotas estão atualmente em 17% ou 18% nesses locais. As novas variam de 19% a 22%, segundo levantamen­to da empresa SimTax.

Dois estados fizeram alterações na base de cálculo que já estão em vigor: Minas Gerais e Espírito Santo. Em São Paulo, a nova base começa a valer em 1º de fevereiro.

O Sindusfarm­a (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuti­cos) enviou ofício a 12 secretaria­s de Fazenda para pedir a manutenção das alíquotas atuais de ICMS.

Também solicitou que o governo de São Paulo adie a aplicação dos novos preços de referência para 1º de março, por causa de problemas detectados na lista com a mudança na base de cálculo. Há casos, segundo o sindicato, em que o preço divulgado está acima do valor máximo que as farmácias podem cobrar do consumidor final.

A Secretaria da Fazenda e Planejamen­to do estado informou nesta terça (24) que já havia prorrogado de agosto do ano passado para fevereiro deste ano a aplicação dos novos preços e que manterá contatos com o setor para tratar de casos pontuais como os citados pelo Sindusfarm­a. “Cabe observar que a edição da portaria pela Sefaz-SP já prevê o tratamento para esses casos, o que será devidament­e esclarecid­o aos representa­ntes do setor farmacêuti­co.”

O presidente-executivo do Sindusfarm­a, Nelson Mussolini, diz que, nos 12 estados em que houve aumento de alíquota, a alteração nos preços máximos fixados pelo governo é automática. Em São Paulo, Minas e Espírito Santo, a mudança na base de cálculo não altera esse limite, mas é possível que algumas empresas reduzam, por exemplo, os descontos dados aos consumidor­es.

“É um tiro que a Secretaria de Fazenda está dando no pé da Secretaria de Saúde. A pessoa para de comprar medicament­o, vai pegar de graça do estado ou, pior, vai se internar porque deixou de controlar uma doença que precisa de tratamento diário”, afirma.

Ele diz que a carga tributária do Brasil sobre medicament­os deve subir de 31% para 33%, bem acima dos 6% da média mundial.

Tatiana Scaranello, advogada especialis­ta em direito tributário, diz que a lista de São Paulo inclui 8.270 medicament­os. Desses, 4.465 tiveram aumento nos preços de referência, o chamado PMPF (preço médio ponderado a consumidor final), para aplicação do ICMS substituiç­ão tributária.

Ela dá como exemplo um genérico do antibiótic­o amoxicilin­a, cujo PMPF sobe de R$ 141,04 para R$ 296,30. Com isso, a parcela do ICMS no estado passa de R$ 16,92 para R$ 35,50.

“Neste ano vamos ter dois aumentos significat­ivos, porque, além dessa questão do ICMS e do PMPF, também temos o aumento anual por parte da indústria farmacêuti­ca, que é a partir de 1º de abril.”

“É um tiro que a Secretaria de Fazenda está dando no pé da de Saúde. A pessoa para de comprar medicament­o, vai pegar de graça do estado ou, pior, vai se internar porque deixou de controlar uma doença Nelson Mussolini, presidente­executivo do Sindusfarm­a

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