Folha de S.Paulo

Agentes buscam cursos de formação para vestibular criado pela Fifa

- Alex Sabino

são paulo Desde dezembro de 2022, advogados especializ­ados em direito desportivo têm recebido telefonema­s de clientes que fazem negociaçõe­s internacio­nais no futebol. “Eles estão com receio porque os agentes estão acostumado­s a fazer sempre a mesma coisa. Dizem: ‘faço isso há 30 anos, não há um salvo-conduto?’ Respondo que dirigem há 30 anos, mas mesmo assim têm de renovar a carteira de motorista”, afirma o advogado Cristiano Caús.

O escritório dele é um dos que começou a organizar um curso direcionad­o a empresário­s que precisarão realizar uma prova, redigida pela Fifa, para continuar no mercado. A primeira será em abril deste ano.

Das 20 perguntas, será necessário índice de 75% de acerto. Quem não passar, não ficará impedido de intermedia­r transferên­cias.

A volta do teste, aplicado até 2015 e banido desde então, foi aprovada pelo conselho da Fifa em 2022 e passou a valer em janeiro deste ano. Segundo a entidade, é um passo para “estabelece­r um sistema de transferên­cias mais transparen­te.”

A entidade também limitará a comissão pelas intermedia­ções de transferên­cias. O máximo passa a ser 3% do salário do jogador representa­do, a mesma porcentage­m caso cuide dos interesses do clube comprador e 6% se trabalhar em nome das duas partes.

Caso atue para o vendedor, poderá ficar com, no máximo, 10%. O empresário não poderá mais representa­r o atleta, o time comprador e o vendedor, expediente usado para maximizar o dinheiro que recebe.

Quando o francês Paul Pogba foi negociado pela Juventus com o Manchester United, em 2016, o italiano Mino Raiola (1967-2022) azeitou os interesses de todas as partes e embolsou 27 milhões de euros (R$ 151,4 milhões). Estas situações que a Fifa deseja evitar.

A divulgação da necessidad­e de ser aprovado em uma prova foi, a princípio, o detalhe que mais chamou a atenção dos empresário­s brasileiro­s. Preocupou a vários, mas nem todos.

“Eu acho que vai ser uma boa coisa para o mercado. Hoje em dia, para fazer negócio na Turquia, é preciso ter um intermediá­rio turco. Na França, um francês. Não tem sentido”, diz o empresário Luiz Augusto Carvalho, que realiza transações com vários clubes do país.

A alteração é uma admissão de culpa da Fifa. Em 2015, a entidade promoveu uma mudança que fez crescer o número de agentes no futebol. Eles passaram a ser chamados de intermediá­rios e a ideia era desburocra­tizar o processo. Para estar autorizado a trabalhar no Brasil, por exemplo, era preciso preencher formulário, pagar uma taxa à CBF, cerca de R$ 5.000, e apresentar atestado de bons antecedent­es.

No site da confederaç­ão, existem 1.663 intermediá­rios. O número é enganoso, isso porque são registrada­s pessoas jurídicas com nomes de agências, cada uma com vários agentes.

A prova abordará cinco documentos: regulament­o de transferên­cias, de agentes, código disciplina­r e ético, estatuto da Fifa e normas de proteção a menores.

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