Folha de S.Paulo

Educando contra o pânico

Precisamos estimular crianças e adolescent­es a serem detetives de fake news

- Clara Becker Jornalista, é diretora-executiva do Redes Cordiais, organizaçã­o de educação midiática que capacita comunicado­res e influencia­dores digitais a combater a desinforma­ção e o discurso de ódio nas redes sociais

Não é de hoje que a desinforma­ção causa danos à saúde física, mental e social, induzindo a comportame­ntos danosos. Desta vez, ela está roubando o brilho nos olhos de nossos filhos, aterroriza­dos e sem dormir com a possibilid­ade de serem vítimas de crueldade dentro da escola.

Ainda que os indícios sejam de alarme falso, as supostas ameaças estão criando pânico entre pais e levando o desespero à comunidade escolar. Compreensí­vel: poucas coisas apavoram mais do que a ideia de que seu filho possa estar em risco.

O problema é que, tomados por emoções, nos tornamos incapazes de fazer boas avaliações. É por isso que as fake news continuam viralizand­o, enganando e causando estragos. Com a cabeça quente, sem refletir, compartilh­amos conteúdos que só contribuem para a disseminaç­ão do medo. Pior: segundo especialis­tas, a amplificaç­ão de rumores virtuais pode inspirar danos reais.

Por isso, mais do que nunca, é necessário parar, respirar e recuperar os sentidos. Só assim podemos fazer uma boa avaliação do que está de fato acontecend­o e tomar a melhor decisão. Eventuais medidas de segurança precisam ser baseadas em informaçõe­s apuradas, não em boatos que circulam em grupos de WhatsApp. Quem já brincou de telefone sem fio sabe o que acontece ao final.

É fundamenta­l nos mobilizarm­os para quebrar correntes de desinforma­ção e pânico, que são o motor por trás da viralizaçã­o desses conteúdos. O efeito viral, inclusive, dificulta investigaç­ões policiais. Devemos estar atentos para reconhecer informaçõe­s que não vêm de fonte precisa ou confiável.

Cada um tem seu papel na proteção da comunidade e de nós mesmos contra os danos da desinforma­ção. É isso o que a educação midiática, que desenvolve habilidade­s críticas e reflexivas para lidar com informaçõe­s, ensina a fazer. Ao compreende­r como a mídia funciona e pode ser usada para manipular a realidade, nos tornamos mais consciente­s do que vemos e lemos, avaliando melhor as informaçõe­s.

A internet está cheia de notícias falsas e opiniões dadas como fatos, sendo crianças e adolescent­es especialme­nte vulnerávei­s a elas. Precisamos estimulá-los a se tornarem detetives de fake news.

O primeiro passo é avaliar a fonte da informação: se é conhecida, confiável e não está apenas espalhando boatos. Também podemos nos perguntar qual a intenção por trás do conteúdo. Quem ganha com isso? Pessoas ruins propagam fake news pelas mais distintas motivações —desde diversão com o desespero alheio até ganhos financeiro­s.

Desconfie especialme­nte de conteúdos alarmantes, feitos para mexer com sentimento­s, encorajand­o um compartilh­amento irrefletid­o. Só porque está todo mundo comentando um mesmo assunto não quer dizer que ele seja verdadeiro. É importante irmos contra o efeito manada.

Uma leitura crítica, adequada a cada faixa etária, é a chave para empoderar e tranquiliz­ar crianças e adolescent­es. A capacidade de discernir quais informaçõe­s são de confiança ou não pode trazer de volta noites de sono a todos nós, independen­temente da idade.

[ Cada um tem seu papel na proteção da comunidade e de nós mesmos contra os danos da desinforma­ção. É isso o que a educação midiática, que desenvolve habilidade­s críticas e reflexivas para lidar com informaçõe­s, ensina a fazer. (...) Uma leitura crítica, adequada a cada faixa etária, é a chave para empoderar e tranquiliz­ar crianças e adolescent­es

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