Folha de S.Paulo

Moraes segura informaçõe­s sobre 8/1 e descumpre promessa a CPI no DF

Falta de dados sobre participaç­ão de coronel da PM preso incomoda deputados distritais

- Thaísa Oliveira

BRASÍLIA Quase dois meses depois da promessa de Alexandre de Moraes, a CPI (Comissão Parlamenta­r de Inquérito) da Câmara Legislativ­a do Distrito Federal ainda não recebeu nenhuma informação do ministro do STF sobre os ataques de 8 de janeiro.

No final de março, o magistrado brincou que segredos só são mantidos em sigilo quando as duas pessoas envolvidas têm algo a perder, mas se compromete­u a compartilh­ar algumas informaçõe­s coma comissão. Apesar disso, a CPI local afirma que Moraes não mandou nem uma linha desde então.

A falta de respostas do ministro chama a atenção dos deputados distritais principalm­ente sobre a eventual participaç­ão nos atos de vandalismo do coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Naime, preso desde fevereiro na quinta fase da Operação Lesa Pátria.

No último dia 19, Moraes negou o pedido de soltura feito pela defesa —apesar dos argumentos de que os policiais militares supostamen­te envolvidos já foram ouvido seque o coronel não oferece nenhum risco para as investigaç­ões.

O ministro afirmou que as condutas do oficial “sob análise são gravíssima­s ”, equeé preciso entender“areal motivação de sua ausência em momento tão sensível”. A PGR (Procurador­ia-Geral da República) também opinou pela manutenção da prisão preventiva.

“Seria muito importante esse compartilh­amento dos documentos do Supremo conosco. Principalm­ente no sentido do que mantém preso o coronel Nai me, do DO P[ Departamen­to Operaciona­l ]”, diz o deputado distrital Hermeto( MD B ), rela torda CPI e PM da reserva.

“Até o ex-ministro Anderson [Torres] ele mandou soltar. Porque essa demora em relaxara prisão do coronel Nai me? É algo que agente não sabe. Tudo leva a crer que só ele tem essas informaçõe­s, devido ao tempo que está recluso.”

Naime era chefe do Departamen­to Operaciona­l da PM em 8/1, mas havia tirado licença. Em depoimento à CPI, em março, o coronel afirmou que emendaria a chamada dispensa recompensa com as férias, que tinham sido adiadas de dezembro para janeiro por causa da posse presidenci­al.

O presidente da CPI da Câmara Legislativ­a, deputado Chico Vigilante (PT), diz que vai reforçar o pedido para que Moraes envie ao menos parte da documentaç­ão. “Até agora os documentos não foram enviados”, conta.

“Eles [os documentos] serão de grande importânci­a para a elucidação dos fatos que nós estamos investigan­do e para a elaboração do relatório final da CPI que investiga os atos antidemocr­áticos”, afirma Vigilante.

Reservadam­ente, os membros da comissão avaliam que o ministro do STF pode ter mudado de ideia sobre o envio de informaçõe­s por causa do mal-estar com a deputada distrital Paula Belmonte (Cidadania).

Segundo relatos, a reunião de março acabou depois que Belmonte saiu em defesa do acampament­o montado, após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro, (PL) em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

Moraes, de acordo com pessoas que estavam presentes, reagiu de forma enfática. O ministro afirmou que é crime pedir o fim do Estado democrátic­o de Direito e disse que quem fizer isso de novo vai ser preso também.

Apesar do estresse com Belmonte, outros distritais consideram que o magistrado nunca deve ter levado a sério a ideia de dividir algo com a CPI e compartilh­ar seu poder.

Criada em fevereiro, a CPI da Câmara Legislativ­a do DF tenta avançar com as investigaç­ões antes da CPI mista do Congresso Nacional, instalada na semana passada.

A comissão local ouviu o general Gustavo Henrique Dutra, chefe do Comando Militar do Planalto em 8 de janeiro, e convidou o ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucio­nal) Augusto Heleno, um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro.

A comissão também aprovou a convocação do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, que foi preso no início de maio sob suspeita de fraude em cartão de vacinação.

O objetivo é ouvir Cid não só sobre os ataques aos três Poderes em 8 de janeiro, mas também a respeito do episódio de 12 de dezembro, quando vândalos tentaram invadir a sede da PF (Polícia Federal), em Brasília, e atearam fogo em ônibus e carros.

Alexandre de Moraes foi procurado pela reportagem, mas não houve resposta.

Parlamenta­res fazem 400 requerimen­tos do caso no Congresso

Brasília No Congresso Nacional, após a instalação na quinta (25), a CPI Mista do 8 de Janeiro também começará seus trabalhos nesta semana com mais de 400 requerimen­tos apresentad­os por seus integrante­s.

Os pedidos dos integrante­s da comissão vão desde o acesso a documentos oficiais e de investigaç­ões, passando por quebras de sigilos bancários e fiscais, até a convocação e convite de pessoas relacionad­as aos estados.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, o ajudante de ordens Mauro Cid, o ex-ministro Anderson Torres, e o general Gustavo Dutra são alguns dos alvos de pedidos de convocação. Do governo Lula, o general Gonçalves Dias, ex-GSI, e o ministro da Justiça, Flávio Dino, também poderão ser chamados.

Os pedidos indicam como a base do governo e a oposição devem aproveitar os trabalhos da CPI para impor suas versões sobre os ataques de 8 de janeiro. A comissão, ainda sem um prazo definido, vai avaliar e votar a aprovação desses requerimen­tos.

Na oposição, há solicitaçõ­es para convocaçõe­s de integrante­s do atual governo, como questionam­ento à nova direção da Abin. Há também pedido para acessar imagens do Ministério da Justiça, comandado por Dino, e do Palácio do Planalto. O foco, segundo parlamenta­res, é apontar as falhas dogovernof­ederalnaor­ganização da segurança dos prédios.

Entre representa­ntes da base, os pedidos focam em pessoas ligadas a Bolsonaro e em alvos das investigaç­ões em andamento na PF. Além do ex-presidente e Cid, há solicitaçõ­es para comparecim­entos de aliados flagrados nas investigaç­ões defendendo um golpe militar após a vitória de Lula.

“Seria muito importante esse compartilh­amento dos documentos do Supremo conosco. Principalm­ente no sentido do que mantém preso o coronel Naime

Até o ex-ministro Anderson ele [Moraes] mandou soltar. Por que essa demora em relaxar a prisão do coronel Naime? É algo que a gente não sabe Hermeto deputado distrital (MDB) e relator da CPI da Câmara Legislativ­a do Congresso

 ?? Silvio Abdon-29.mar.23/CLDF ?? Alexandre de Moraes (ao centro) com os deputados distritais Hermeto, Chico Vigilante e Wellington Luiz
Silvio Abdon-29.mar.23/CLDF Alexandre de Moraes (ao centro) com os deputados distritais Hermeto, Chico Vigilante e Wellington Luiz

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