Folha de S.Paulo

O papelão e o tardio fim da eleição

Dados mostram uma indústria tomando fôlego para retomar o passo

- Marcos de Vasconcell­os Jornalista, assessor de investimen­tos e fundador do Monitor do Mercado

As eleições parecem ter finalmente chegado ao fim, aos olhos do mercado. Com praticamen­te seis meses de atraso, investidor­es e empresário­s conseguem enxergar com alguma clareza a política econômica do terceiro mandato de Lula (PT). O arcabouço fiscal foi aprovado na Câmara e o ritmo da inflação acalmou-se.

Com isso, empresas e consumidor­es começam a voltar aos trilhos. Isso não quer dizer otimismo com o governo, mas um poucomaisd­ecertezasn­omarde inseguranç­a tradiciona­l do Brasil. E essas perspectiv­as mexem nos preços —das coisas na economia real e das ações na Bolsa.

Para entender as perspectiv­as do “mundo das coisas”, há um indicador que aparece pouco nas notícias, mas que acho muito significat­ivo: o IBPO, sigla para Índice Brasileiro de Papelão Ondulado.Sim,comoonomed­iz, ele mede a expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão.

Não há máquina de lavar nem computador que saia da fábrica sem sua embalagem de papelão ondulado. E, como esse tipo de papelão ocupa muito espaço para estocar, só é produzido quando há demanda quase garantida. Por isso, sua produção é um bom apoio para tentar enxergar o futuro.

Pois bem! O total de toneladas de papelão expedidas neste ano, de janeiro a abril, passou o volume do mesmo período do ano passado. Comparando os últimos cinco anos, aliás, a produção de papelão ondulado deste ano só perde para 2021 —quando ensaiamos aquela primeira retomada econômica da pandemia.

Os números do papelão concordam bastante com o levantamen­to feito com as indústrias de São Paulo, chamado Sensor, da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). O último dado, de maio, aponta expansão no mercado, nas vendas, no emprego e nos investimen­tos. Isso não acontecia desde agosto do ano passado.

Os dados mostram uma indústria tomando fôlego para retomar o passo. No próximo dia 29, será divulgado o relatório de confiança da Indústria da FGV, atualizado com dados de maio. No de abril, vale dizer, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria teve seu maior avanço desde setembro de 2020, atingindo 80,7%.

A indústria, assim como os analistas do mercado, enxerga a aproximaçã­o de uma possível redução das taxas juros e, com isso, começa a se posicionar para um movimento de mais investimen­tos e produção.

No último relatório Focus, divulgado pelo banco central no dia 22, os especialis­tas do mercado preveem que chegaremos ao fim do ano com uma inflação (IPCA) de 5,80%, uma redução consideráv­el em relação à previsão feita quatro semanas antes 6,04%. Já em relação à taxa básica de juros (Selic), a previsão para queda (dos atuais 13,75% ao ano para 12,50% a.a.) já é quase dada como certa pelos mesmos analistas.

Enxergar esse reposicion­amento dos jogadores em campo é imprescind­ível para quem quer fazer suas apostas no jogo daqui para frente.

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