Folha de S.Paulo

Mercado já faz as apostas para queda da Selic

Projeções indicam taxa básica de juros em 12,50% em dezembro de 2023; ‘small caps’, prefixados e real são opções

- Lucas Bombana

são paulo A queda da taxa Selic prevista para o segundo semestre do ano, que parece se consolidar com a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara e o recuo da inflação, deve abrir algumas oportunida­des no mercado aos investidor­es.

Ações de empresas de menor porte mais relacionad­as à economia doméstica, títulos prefixados na renda fixa e a moeda brasileira são apontadas por especialis­tas como candidatas com alto potencial de se destacarem em um cenário de redução dos juros.

Gestora de renda variável da FAR (Fator Administra­ção de Recursos), Isabel Lemos afirma que a queda dos juros reflete a redução das incertezas relacionad­as à inflação, mas também sobre o mercado de crédito e em relação à condução da política econômica no país, bem como relativas ao setor bancário global e às políticas de aumento de juros nas economias desenvolvi­das.

Segundo ela, no cenário menos incerto e com juros menores à frente, ações de empresas de consumo, do setor imobiliári­o e de bens de capital, mais sensíveis à oscilação da Selic e que tiveram desempenho abaixo da média de mercado nos últimos meses, tendem a se destacar positivame­nte.

“São setores que devem começar a apresentar uma melhora dos resultados”, diz Isabel. “Com as incertezas diminuindo, começamos a ver uma luz no fim do túnel.” A varejista Renner e a fabricante de peças para o setor automotivo Randon são nomes que a gestora enxerga com bons olhos.

Ela acrescenta que ações conhecidas no mercado como “small caps”, com valor de mercado inferior às maiores empresas da Bolsa, também devem ter performanc­e destacada com redução da Selic.

Small caps são ações de empresas mais relacionad­as com a economia doméstica, e costumam andar mais do que os pares quando a direção dos juros é para baixo, diz Fernando Siqueira, chefe de pesquisa da Guide Investimen­tos.

“As small caps costumam ser ações de empresas de menor porte de consumo e do setor imobiliári­o, que sentem mais as variações dos juros em comparação com nomes como Vale e Petrobras”, diz Siqueira.

Segundo cálculos do especialis­ta, em anos nos quais o BC (Banco Central) promoveu cortes na Selic, as small caps tiveram valorizaçã­o média de 44%, em comparação com ganhos de 34% do Ibovespa.

Em maio, até o dia 26, o índice de small caps da Bolsa sobe 14%, enquanto o Ibovespa tem alta de 6%. Mesmo com os juros ainda inalterado­s, apenas a perspectiv­a de que eles devem começar a cair já tem trazido impacto para os papéis do segmento, diz Siqueira.

A rede de farmácias Panvel, a imobiliári­a Direcional, a Oncoclínas, de saúde, e a concession­ária EcoRodovia­s estão entre as small caps recomendad­as pela Guide em maio.

Werner Roger, sócio-fundador e diretor de investimen­tos da Trígono Capital, gestora focada em small caps, cita Kepler Weber e Mahle Metal Leve entre as principais posições nas carteiras dos fundos.

Ele explica que a primeira é uma das principais empresas de armazenage­m de produção agrícola do paí sevais e beneficiar da safra recorde prevista para este ano, e aM etal Leve atu ana fabricação decomponen­tes para veículos e tende a surfar apolítica de redução de preços econ se quente aumento de venda dos carros promovida pelo governo.

“Smallcaps estão se recuperand­o rapidament­e, equem está fora do mercado vai perder o rally”, diz o gestor da Trígono.

Na renda fixa, Siqueira, da Guide, diz que, com perspectiv­a de queda da Selic, os prefixados são opção atraente.

Ao investirem um papel prefixado hoje, o investidor garante rentabilid­ade alta na casa dos dois dígitos para os próximos anos, conforme o prazo de vencimento do título, enquanto os pós-fixados, que foram os preferidos de especialis­tas nos últimos meses, vão reduzir o retorno de acordo com a Selic, explica Siqueira.

“Quando o BC começar a cortar os juros, devemos ter uma migração dos pós-fixados para os prefixados. É uma dinâmica natural que o mercado faz”, diz Rodrigo Jolig, co-CEO e diretor de investimen­tos da gestora Alphatree Capital.

Gestor de fundos da Empiricus Investimen­tos, Rodrigo Knudsen diz que o investidor deveria voltar atenção para títulos prefixados de médio prazo, com vencimento ao redor de 2026. No Tesouro, os papéis pagavam juro nominal de 10,98% na sexta-feira (26).

São papéis que oferecem retorno ainda atraente de dois dígitos e que estão em patamar acima do que deve ser a taxa de juros vigente no vencimento do título, diz Knudsen.

Além disso, não são tão arriscados como títulos de mais longo prazo, que vencem depois de 2030 e estão mais sujeitos à volatilida­de do mercado a depender da condução da política econômica do governo, diz o gestor da Empiricus.

Já Marcos Papaterra, sócio e diretor comercial da Tag Investimen­tos, diz que, mesmo com a queda da Selic, a expectativ­a do mercado é de que os juros seguirão altos um bom tempo —no boletim Focus, a mediana das estimativa­s aponta para uma taxa de 12,50% no final deste ano e de 10% em dezembro de 2024.

Por isso, diz ele, investir em títulos pós-fixados de crédito privado que pagam o CDI mais taxa prefixada entre 1,5% e 2% seguem sendo boa pedida. “Continuamo­s apostando na renda fixa como um dos grandes cavalos de investimen­to.”

O sócio da Tag acrescenta que o episódio da Americanas e da Light, denotam a importânci­a da análise minuciosa do emissor dos títulos e da saúde financeira das empresas.

Jolig, da Alphatree, diz ainda que o fortalecim­ento recente do real frente ao dólar, em níveis abaixo dos R$ 5, é uma tendência que deve prosseguir com a queda da Selic.

Os juros atuais contribuem para a vinda de investidor­es estrangeir­os atraídos pelo retorno acima da média em comparação com a maior parte dos outros países, afirma o co-CEO da gestora.

Mesmo com a queda da Selic, ele espera que o fluxo de capital internacio­nal continue forte, com os investidor­es globais vindo aproveitar a provável recuperaçã­o da Bolsa.

Os analistas do Itaú BBA também esperam que o corte de juros contribua para a entrada do estrangeir­o.

“Os investidor­es internacio­nais estão mais otimistas do que prevíamos, pela visão de que os preços no mercado brasileiro parecem atraentes em relação a outros mercados emergentes e pela expectativ­a de que as ações tendem a apresentar um bom desempenho quando houver uma maior visibilida­de sobre os cortes de juros”, diz relatório do banco do dia 25.

Gestor da Neo Investimen­tos, Mario Schalch diz que, mais do que o fortalecim­ento do real, o dólar deve passar por uma fase de enfraqueci­mento nos próximos meses.

Após ter se beneficiad­o como reserva de valor em comparação aos principais pares, o dólar deve experiment­ar um novo reequilíbr­io, diz Schalch.

Ele vê ainda que o real segue barato frente ao dólar mesmo com a valorizaçã­o recente. Mas ele diz que a aposta no real deve ser vista mais como estratégia tática de curto prazo neste momento, porque a política econômica adotada pelo governo ainda pode trazer volatilida­de para os preços dos ativos domésticos, sem ser possível descartar repiques de alta do dólar.

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