Fim da SPFW oscila entre ‘Matrix’ e Cora Coralina
Últimos desfiles exibiram looks brutos da forca Studio, a delicadeza da Thear e a inventividade de fernanda Yamamoto
são paulo Sob o barulho constante de serras elétricas contra placas de metal, a Forca Studio mostrou sua nova coleção no sábado (27), na São Paulo Fashion Week. A semana de moda encerrou sua 55ª edição neste domingo (28), depois de cerca de 50 desfiles nos últimos dias.
A apresentação da Forca foi no pátio de uma distribuidora de produtos siderúrgicos na Mooca, ambientado com grandes guindastes e andaimes nos quais construtores trabalhavam como se estivessem numa obra.
Assim como alocação, as roupas eram brutas. Calças pretas de borracha com caimento sem camadas, longos casacos pretos e vestidos de látex —lembrando o visual de “Matrix”—, além de botas de salto quadrado com placas de metal desenvolvidas pela Corcel, marca especializada em calçados.
Muitas das peças desfiladas tinham recortes em formas geométricas que deixavam o corpo à mostra, dando um bem-vindo ar sexy a um vestuário que poderia ser só austero. Vale destacar um casaco mais justo ao corpo feito de couro de pirarucu, que nesta coleção ganha um ar industrial, à la Rick Owens, fugindo da pegada ecológica geralmente associada à pele deste peixe.
Intitulada“Construção ”, estaéa terceira coleção em menos de uma node existência da grife paulistana —o nome é um comentário sobre o próprio crescimento da marca, segundo um dos diretores criativos, Silvio de Marchi.
O clima mudou totalmente no desfile seguinte, para um universo de mulheres maduras, na apresentação da marca goiana Thear, que mostrou uma coleção inspirada no guarda-roupas da poeta Cora Coralina. Segundo o diretor criativo Theo Alexandre, a ideia é traduzir o vestuário da escritora para a mulher de hoje.
Na passarela do Komplexo Tempo, um conjunto de galpões na Mooca que sediam parte dos desfiles, isso se traduziu em roupas confortáveis feitas com fibras naturais, bonitas mas não arrebatadoras. Em tons de azul, branco e ocre, os vestidos, tops e saias passavam calma e contenção, ma soque roubou acena mesmo for amos colares e brincos cintilantes da designer de joias Eleonora Hsiung.
O públicos e comoveu coma entrada da influencer de moda de 82 anos Vó Izaura, que fechou o desfile com um vestido off-white com as mangas e a barra ornadas com rendas.
Fora da sala de desfiles, o movimento era relativamente tranquilo, bem mais do que na edição anterior da semana de moda, em novembro do ano passado. Houve menos ações de patrocinadores, menos movimento e, por consequência, menos pessoas tirando selfies —embora os looks dos fashionistas sigam produzidos.
Na sequência, a marca carioca AZ Marias fez um desfile feminino com muitos tons de azul, de acordo com o tema da coleção —água. O dourado apareceu também, tanto no vestido que abriu o show quanto num casaco adornado com conchinhas.
Redes de pesca faziam as vezes de saia, de acessório para a cabeça ou de bolsa, numa apresentação irregular com looks desenhados para diferentes corpos, não só para quem é magro.
O sábado terminou com um desfile curto de Weider Silveiro, respeitado pela qualidade do seu trabalho. Natural do Piauí, oestilist abuscou nainfânc ia asr eferências para anova coleção, com looks que valorizam a costura manual de tias e avós, masque carregam acarado agora e não do passado.
Na passarela, ao som de “Cajuína”, de Caetano Veloso, as roupas feitas com as técnicas do fuxico e de amarrações em tiras de malha progrediram dos alaranjados para os ocres, seguidas de verdes e pretos.
Um vestido preto todo de fuxico foi um dos destaques, assim como um conjunto desfilado pelo DJ e personalidade da noite Johnny Luxo —uma regata alongada com um círculo vazado do lado esquerdo das costelas combinado com uma calça bicolor em verde e ocre. As bolsas vieram em tamanho máxi, com franjas na lateral que se estendiam até o chão.
Já Fernanda Yamamoto mostrou no domingo uma coleção pensada para os clientes e amigos da marca, sem um tema específico englobando o conjunto. Muito do que se viu era um misto de costura e escultura, com peças que poderiam sair dos corpos e ir para exposições de arte. Seu desfile foi um dos melhores da semana de moda.
Trabalhando com o preto, o branco e o cinza, numa cartela de cores sóbria, as peças não eram muito convencionais, mas davam vontade de usar. No masculino, destacou-se um longo casaco cinza com a padronagem quadriculada característica da marca e também uma jaqueta bomber amassada, na mesma cor.
No feminino, a estilista paulistana mostrou vários looks com organzas em preto ou branco usadas de diversas formas —como transparências colocadas sobre vestidos brancos, caso das mangas para os braços ou dos vestidos quadriculados. Uma das peças mais interessantes foi um casaco estilo pufe em preto e branco, com formas geométricas vazadas.
Bordados em pedraria também foram bastante explorados na coleção, apresentada num desfile diverso , com 30 modelos de diversas idades e tipos de corpo.